sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


 


 

A rebelião integralista de 1938

e seus reflexos no Estado (I)


 

Levante deteve Getúlio em casa

mas faltou o apoio do Exército


 

Texto de Luiz Gonzaga Cortez*


 

A rebelião de setores da Ação Integralista Brasileira-AIB contra o ditador Getúlio Vargas, em 11 de maio de 1938, no Rio de Janeiro, permanece esquecida pelos nossos políticos, historiadores e intelectuais. Os episódios de 23 a 27 de novembro de 1935, em Natal, Recife e Rio de Janeiro, são lembrados anualmente, pelos simpatizantes daquele movimento, inclusive pelos seus adversários. A insurreição não passou de uma tentativa de golpe para tirar Getúlio do poder e contou com a participação de dezenas de civis armados e oficiais do Exército, dentro os quais se destacaram o tenente Severo Fournier e o médico Belmiro Valverde. A rebelião ficou conhecida como a "intentona integralista", fracassou horas depois da recusa do general Gaspar Dutra, Ministro da Guerra, em apoiar o "putsch" dos camisas-verdes da AIB, organização fundada pelo escritor paulista Plinio Salgado, uma das figuras proeminentes da Semana de Arte Moderna de 1922.

Os integralistas mantiveram Getúlio detido num quarto do seu palácio durante quase 4 horas, segundo versões de historiadores, mas os líderes militares que tinham prometido apoio ao golpe, não atenderam aos apelos de reforços para derrubarem o ditador. Há versões de que o chefe Plinio Salgado não apoiou o golpe militar e se refugiou em São Paulo após não conter a sedição de seus liderados civis e militares da Marinha e do Exército.

Getúlio Vargas tornou-se ditador com o golpe de 10 de novembro de 1937, apesar de vir governando o país com amplos poderes desde outubro de 1930. Enganou seus aliados à direita e à esquerda para se perpetuar no poder, inclusive Plínio Salgado, a quem ofereceu o cargo de Ministro da Educação. Plinio tinha trabalhado duramente em 1937 para sair candidato à Presidência da República pela AIB, organização conservadora, anticomunista, nacionalista e cristã ( contou com apoio de quase toda a cúpula da Igreja Católica brasileira). José Américo de Almeida e Armando Sales de Oliveira, representantes da burguesia industrial paulista e do latifúndio nordestino também estiveram em campanha eleitoral em 37. Os integralistas fizeram um plebiscito nas suas fileiras e 800 mil camisas-verdes, incluindo os do RN, apoiaram o nome de Plínio para Presidente. Cem mil integralistas desfilaram no Rio de Janeiro oferecendo apoio a Getúlio Vargas. Foram ao Palácio do Catete, no inicio de maio de 1937, ocasião em que Plínio Salgado, Gustavo Barroso e outros líderes integralistas comunicaram ao ditador o resultado do plebiscito.

Maquiavélico, Getúlio incentivou os integralistas e os setores liberais para prosseguirem suas campanhas para as eleições previstas para o ano seguinte, conforme preceituava a Constituição em vigor. Astuto e hábil articulador político, Getúlio executou o golpe em silêncio, com apoio das Forças Armadas, principalmente do general Góis Monteiro, chefe do Estado Maior do Exército. O menor civil do golpe de 10 de novembro de 1937 foi o intelectual mineiro Francisco Campos, um dos criadores de uma organização de direita em Belo Horizonte/MG.

O GOLPE

Após a implantação do "Estado Novo" - autoritário e repressivo - , os adversários de Getúlio Vargas se articularam numa conspiração para derrubá-lo do poder. Empresários e políticos de São Paulo participavam da trama que culminaria com o golpe militar em janeiro ou março de 38. No entanto, a insurreição somente ocorreu na noite de 11 de maio de 1938 com o ataque ao Palácio do Catete, residência do ditador.

Um dos chefes do integralismo, Olbiano de Melo, no seu livro "A Marcha da Revolução Social no Brasil", a polícia política prendeu dezenas de integralistas no Rio, São Paulo e outros Estados, após fracassada invasão da Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro, em março , comandada pelo dr. Jair Tavares e o tenente Loyola. Plínio refugiou-se em São Paulo, onde foi preso pela polícia política do regime, levado para a Fortaleza Santa Cruz, no Rio de Janeiro, de onde saiu para o exílio em Portugal. Somente retornaria em 1945. No exílio, escreveu uma das suas mais belas obras literárias, "A Vida de Jesus".

Conta Olbiano, que Plínio Salgado concordou com o golpe durante uma reunião secreta, realizada no Rio, que contou com a presença do Brigadeiro Newton Braga, mas que ele determinaria a data do levante golpe integralista. No entanto, em março o levante precipitou-se, após o fracasso de janeiro, com a tentativa de ocupação da rádio Mayrinck Veiga . "...viera em 11 de maio, com o ataque de Belmiro Valverde, chefiando um grupo de "camisas- verdes", ao Palácio Guanabara, já em desespero de causa, articulado com o general reformado Castro Júnior e com o grupo civil dos srs. Armando Sales de Oliveira, Júlio Mesquita Filho, Flores da Cunha e Otávio Mangabeira, tendo como agente de ligação o dr. José Paranhos do Rio Branco, e com os quais Plínio Salgado se unira para a insurreição geral de março".

Olbiano de Melo, que afirma nunca ter omitido sua opção pelo fascismo, então no auge na Europa e em crescimento no próprio Estados Unidos da América do Norte (Câmara Casucod escreveu um artigo sobre o crescimento do fascismo nos EUA), registra que ao médico Belmiro Valverde coube a tarefa de cercar o Palácio, "deter ali o Ditador e ainda os ministros militares em suas residências, sublevar parte da Marinha, até que o General Castro Júnior, secundado por outras altas patentes, comprometidas com o movimento, descesse com a Guarnição da Vila Militar para a cidade e se organizasse uma Junta Governativa que imediatamente promoveria o retorno da Nação aos quadros legais da Constituição de 1934. Valverde cumpriu integralmente a palavra empenhada. Teve em suas mãos por toda a madrugada do dia 11 de maio de 1938 o Sr. Getúlio Vargas completamente isolado do mundo, cercou as residências dos ministros militares, inclusive o apartamento do General Góis Monteiro, Chefe do Estado-Maior do Exército e levantou parte da guarnição da Escola Naval e do Arsenal da Marinha. Mas ao invés de terem a cobertura da Vila Militar, os rapazes que se assenhorearam do Palácio Guanabara, comandados pelo Tenente Severo Fournier, foram cercados e dominados ao raiar do dia por um contingente de tropas do Forte São João, dirigidas pessoalmente pelo General Gaspar Dutra, Ministro da Guerra. A reação continuou ainda pela manhã do lado da Marinha sob o comando do Tenente Halzzemann, que também foi dominado com os seus revoltosos, após ter sido gravemente ferido. Esta foi uma das atitudes mais varonis do movimento do Sigma que, de um modo geral, em todos os seus quadros pelos país afora sentia-se vilipendiado pelos senhores da situação. Valeu como um protesto, embora tenha custado a vida de vários "camisas-verdes", após serem presos, nos jardins do Palácio" ( Olbiano, op. cit., p.128, Edição O Cruzeiro, 1958).

Foram mortos friamente, após presos, por Lutero Vargas, irmão do ditador, os seguintes integralistas: Tenente Teófilo Otoni Jacould, Dionísio Pereira da Silva, Mário Salgueiro Viana, Waldemiro Petrone, José Rodrigues, Luis Candido, Manoel Gomes Vidal, Artur Pereira de Holanda e o cabo Juvêncio Henrique Pereira Dias. o tenente Fournier viria a falecer anos mais tarde vítima dos maus-tratos na prisão, no Rio. O chefe de polícia era o Capitão Felinto Muller, descendente de alemães, admirador de Hitler e responsável pela entrega da comunista alemã Olga Benário, mulher de Luiz Carlos Prestes, aos nazistas. O coronel Euclides Figueiredo, pai do falecido general e ex-Presidente João B. Figueiredo, participou da "intentona" integralista e foi obrigado a se exilar. ( tinha sido condenado a 4 anos e 4 meses de prisão).

As forças do governo não sofreram baixas, mas mais de 1.500 pessoas, integralistas, simpatizantes e adversários de Getúlio, foram presas em todo o país. Respaldado pelo decreto-lei 428, de 16 de maio de 1938, o regime iniciou violenta repressão e transformou os julgamento do Tribunal de Segurança Nacional em uma verdadeira "blitz". O comandante Fernando Cockrane, Ayrton Plaissant, Lauro Antunes e Oswaldo Belém, condenados a l ano, foram punidos com três anos e quatro meses de prisão. Valverde foi condenado a 8 anos de prisão na Ilha de Fernando de Noronha( que estava cheia de presos comunistas que participaram da intentona de 1935) , de onde enviou vasta correspondência para Carlos Gondim, um dos dirigentes da AIB no Rio Grande do Norte. Gondim era chefe do serviço secreto dos integralistas potiguares e colaborou com os americanos em Natal durante a segunda guerra. As cartas de Valverde chegavam por via aérea, graças a intervenção consul americano em Natal.

Em Natal, a repressão policial atingiu diversas pessoas que nada sabiam da conspiração integralista, como o comerciante católico Carlos Gondim, detido por 13 dias, na Chefatura de Polícia, na Ribeira. Os comerciantes e integralistas Manoel Genésio Cortez Gomes e Sérgio Severo de Albuquerque Maranhão, entre outros, foram interrogados, tiveram suas residências vasculhadas pela polícia estadual. Foram considerados subversivos de direita. Governava o Estado o interventor Rafael Fernandes Gurjão, que tinha sido eleito em 1934, por via indireta, e aceitou ficar no poder após o golpe de novembro de 1937. Câmara Cascudo, conhecido folclorista e figura proeminente da cultura potiguar, não escreveu nada sobre a repressão policial contra os seus companheiros da Ação Integralista Brasileira, organização da qual foi um dos fundadores e um dos seus líderes no Rio Grande do Norte.


 

*Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador.


 


 

A rebelião integralista de 1938

e seus reflexos no Estado do RN ( II)


 


 

Polícia suspeitava que os camisas verdes

procuravam armas para uma revolução


 

Texto e pesquisa de Luiz Gonzaga Cortez


 

A maioria dos integralistas potiguares eram católicos praticantes. A Ação Integralista Brasileira do RN nasceu dentro da Igreja Católica, em Natal, em 1933, com apoio ostensivo do comendador e professor Ulisses Celestino de Góis, considerado uma das reservas morais do Estado. O clero apoiava, mas não aparecia oficialmente nas reuniões e desfiles dos camisas-verdes. Entre 1933 e 1937, as organizações católicas de Natal, Congregação Mariana de Moços e Irmandade dos Passos do Sagrado Coração de Jesus, eram compostas por integralistas militantes, na sua maioria. Naquele tempo, em Natal, ser católico atuante era ser camisa verde. Não se sabe o número exato de pessoas que se filiaram ao integralismo no RN, em virtude da queima dos seus arquivos. Houve queimas de arquivos em 1935 e em 1937, episódios já relatados nos livros "Pequena História do Integralismo no RN" e "Câmara Cascudo, jornalista Integralista", publicados em Natal.

A documentação apreendida pela polícia política estadual nas casas dos dirigentes da AIB em Natal, encontrada no Arquivo Público do Estado e com cópias em nosso poder, não traz indícios de que os camisas verdes potiguares estavam preparados para um levante armado no Rio Grande do Norte. Os documentos da extinta Delegacia de Ordem Social e Investigações, depois denominada Delegacia de Ordem Política e Social-DOPS, chefiada pelo delegado João Medeiros Filho, desde 1936 vinha acompanhando as atividades dos comunistas ( "os extremistas do credo vermelho") e dos seguidores do escritor Plínio Salgado, que eram aliados do regime de Getúlio Vargas desde o nascimento do movimento nacionalista, em 1932, em São Paulo. Com o golpe de novembro de 1937, os integralistas passaram a ser considerados perigosos ao "Estado Novo", haja vista que a AIB reunia quase um milhão de filiados em todo o Brasil, com muitos adeptos na Marinha e no Exército. Após a decretação da ilegalidade da AIB, os camisas verdes passaram a conspiram contra a ditadura. Mas em Natal, os integralistas não estariam sabendo das articulações com vistas a derrubada de Vargas, segundo os documentos apreendidos pela polícia que, na sua maioria, se referem a apreensões de livros, cadernos, objetos, fardamentos e medalhas do movimento que tinha como lema "Deus , Pátria e Família". Há informes de policiais de que militares da Marinha estariam procurando armas para um levante. Poucos documentos sigilosos foram apreendidos, mas eles indicam que os investigadores vinham espionando as atividades dos integralistas em Natal. Se chegava um integralista no porto e se havia um camisa verde à espera, estava lá um policial civil para observar seus passos e relatar o que viu e ouviu para o delegado. Forasteiros, vendedores, viajantes em geral, eram visados. E se fosse estrangeiro o passageiro que desembarcasse de um hidro-avião da "Condor", empresa aérea alemã, os policiais levantavam as suas desconfianças peculiares. As provas: fichas, prontuários e relatórios dos policiais.

Em janeiro de 1938, a polícia local já estava de olho nos integralistas natalenses. Com o título "Notas" , há um informação do policial Manoel Maia Monteiro ( que eu conhecí em 1984, quando repórter do Diário de Natal), a ficha do DOPS de Ito Barroso Magno, um dos mais atuantes integralistas e que tornou-se oficial da Marinha, registra que "O comandante porintermédio dos seus filhos andam procurando armanento e munição de que dispõe a Fôrça Pública, com o objetivo de preparar elementos para apoiar um movimento revolucionário integralista que esperam rebentar em todo o país. Dizem contar com elementos dentro da Fôrça Pública, inclusive um capitão que assignou a acta de organização do citado movimento".

Em 4 de janeiro de 38, o outro agente informava que "O filho do cmt. Barroso de nome............perguntou ao Sgt. Orlando porque que já estavam perseguindo os seus amigos da Fôrça Pública citando o facto de ter sido transferido para a 5a Cia. em Caicó o soldado Antonio Ferreira da Silva, integralista nesta Capital, dentro da Força Publica, conferiu de apoiar a revolução integralista que espera rebentar no paiz. Um sgt. da Marinha encontrando o mesmo Sgt. Orlando lamentou a sahida daqui da Capital, do referido soldado, dizendo ainda que este ia lhes fazer grande falta". (Sem assinatura e com ortografia da época).

Também consta do prontuário 1455 de Ito Barroso, datado de 5 de março de 38, com vistos do comissário Francisco Meira Lima, mais uma "parte" do investigador Manoel Maia ao Delegado de Ordem Social e Investigações: "Levo ao conhecimento de V. Sa. , que hontem, na ocasião que desatracava o paquete "Itaquicé", do porto desta Capital, no qual seguia o integralista Ito Barroso Magno, filho do Cap. da Marinha, Barroso Magno, com destino ao Rio de Janeiro, ouviram vários "Anauês", saudação esta feita pelos integralistas José Vilar, Manoel Genésio e outros que não os conheço de nome".


 

Os subversivos integralistas

As pastas que estão no Arquivo Público do Estado, à disposição dos pesquisadores e historiadores, eram do Departamento da Segurança Pública - Delegacia de Ordem Social e Investigações e os seus relatórios são resultados de "diligências policiais". Foram fichados pela polícia e processados, julgados e absolvidos pelo Tribunal de Segurança Nacional, os comerciantes Manoel Genésio Cortez Gomes, Carlos Gondim, Sérgio Severo de Albuquerque Maranhão ( processo número 571, cancelamento da ficha e do prontuário em 28 de setembro de 1942. Severo foi chefe interino da AIB/RN em dezembro de 1935), Luiz Veiga, além dos intelectuais Otto de Brito Guerra (processo número 571, exclusão da denúncia em 150738), Manoel Rodrigues de Melo e Luis da Câmara Cascudo ( não achei a pasta do folclorista, mas o sociólogo Leonardo H. Barata localizou o processo em arquivo do Rio de janeiro).

Há vários autos de termos de declarações dos integralistas ouvidos pela polícia, nos quais os interrogados procuram não se aprofundar sobre a extensão do movimento integralista no Rio Grande do Norte. Por exemplo, o "Auto de Declarações" de Manoel Genésio Cortez Gomes, prestadas em 21 de março de 38( dois dias depois de uma "batida"na polícia na sua residência, rua Coronel Estevam, 1095, Alecrim, na sede da Ação Integralista, na praça 7 de setembro, número 3, Centro, na Casa Comercial de Carlos Gondim, na rua Dr. Barata, 200, Ribeira) contendo 37 linhas, é sucinto. Diz que "o declarante foi chefe provincial em Natal, do Núcleo Integralista, a partir de 18 de junho de 1937 até a extinção do mesmo Núcleo mais ou menos em dezembro de referido ano; que não é do conhecimento dele declarante ter sido retirado qualquer livro, papeis ou documentos da sede integralista de Natal, para a casa de qualquer socio, ou para qualquer parte, depois do extinto o mesmo Integralismo; que havia integralista entre funcionarios estaduaes, federaes e municipaes; que sabe que o investigador Joaquim Rodrigues, era integralista, não sabendo porem se o mesmo contribuhioa com a cota esportiva; que elle declarante ouviu falar que tinha um cabo da Policia que era Integralista, não sabendo porem o nome delle bem assim que havia tambem soldados integralistas, não sabendo tambem os nomes dos mesmos; que sempre tem elle declarante ido ao quartel da Policia, de oito em oito dias, ou de 15 em 15 dias, tratar de negocios a respeito dos onibus que, digo, de que elle declarante é um dos empresarios, sobre passagens de soldados para o sertão e vice-verso, e alli naquelle referido Quartel elle declarante se entende com o capitão ajudante, por nome Carvalho; que nada mais declarou. Assinam o documento o delegado dr. Emygdio Cardoso Sobrinho, o declarante e o escrivão Miguel Leandro Filho. Um dia depois, a 22, ele é novamente interrogado pelo mesmo delegado: "... perguntado ao depoente o destino dado ao livro onde deviam estar as inscripções dos cidadãos que ingressaram nas fileiras da Acção Integralista deste Estado: respondeu que, não existia livro do Nucleo Integralista de Natal, onde estivessem os nomes que entraram no Integralismo, digo, das pessôas que eram inscriptas no Integralismo, sendo o serviço de inscripção feito em fichas, uma assignada pelo candidato, da qual eram tiradas copias: que perguntado ainda se as fichas aprehendidas são verdadeiras, sendo copias das fichas assignadas pelos candidatos: perguntado ainda onde se encontram as fichas assignadas pelos candidatos ao Integralismo, respondeu que as fichas originaes assignadas pelos candidatos ao Integralismo se achavam em poder do socio José Villar Lemos, o qual declarou a elle respondente que as havia queimado após o Integralismo deixar de existir legalmente: perguntado com que fim José Villar Lemos queimou as ditas fichas, respondeu que José Villar lhe dissera que havia queimado ditas fichas originaes temendo que as mesmas viessem cahir em mãos dos inimigos, semilhantemente ao que fez em 1935 após a Revolução Communista. E como nada mais disse nem lhe foi perguntado, mandou a autoridade encerrar o presente auto de perguntas, que depois de lido e achado conforme, vai assignado pela mesma autoridade, depoente e por mim Miguel Leandro Filho, escrivão que o dactylographei".

A documentação existente no Arquivo Público se referem as diligências e interrogatórios registrados nas pastas e fichas da extinta DOPS de Natal e não às inúmeras convocações para depoimentos informais na antiga Chefatura de Polícia, que funcionava no prédio atualmente ocupado pelo ITEP, na rua Duque de Caxias, Ribeira.


 


 

*Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador


 


 


 


 


 


 

Candelária quer mais segurança

Conselho implanta programa

De representantes de ruas.


 

A direção do Conacan, encabeçada por Victor Vale, conseguiu iniciar o projeto de representantes de ruas de Candelária. Inicialmente, são 13 representantes que ficarão encarregados de zelar pela limpeza, segurança e manutenção das ruas, através de contatos diretos com a secretaria do Conacan, no horário comercial. A idéia é expandir para todo o conjunto residencial, pois possibilitará um Raio X da nossa realidade, dando, assim, informações sobre o que o Conacan poderá fazer para reduzir os problemas e carências da comunidade.

Já se sabe que podações de árvores velhas foram solicitadas pelos moradores de algumas ruas. Apesar de não ser de sua competência, mas da Prefeitura Municipal de Natal, o Conacan iniciou várias podas, acarretando mais visibilidades em locais com escassa iluminação. "A podação dá mais segurança para o povo porque a luz flui mais e evita os assaltos", afirma o presidente do Conacan. As solicitações à Prefeitura foram feitas por ofícios.

Victor Vale solicitou que a Semsur faça urgentes reparos na pavimentação de dezenas de ruas que estão com a pavimentação se desmanchando. Comenta-se que a causa seria quebras de manilhas da rede de esgotos feita pela Caern (ainda não ativadas), mas em alguns cruzamentos seria devido ao intenso tráfego de veículos pesados e leves.

Candelária também precisa melhorar a sinalização de trânsito e colocar lombadas em trechos onde o tráfego é mais intenso, principalmente nas proximidades de pracinhas e próximos de estabelecimentos comerciais.

Sábado de sol

O Conacan iniciou o projeto do "Sábado de Sol" para as crianças do bairro e da periferia, de 8 às 12 horas, com a utilização de enfermeiras e profissionais de saúde que orientarão os pais sobre determinadas cuidados com a saúde de seus filhos. Victor Vale pretende expandir o programa com convênio com a Secretaria Municipal de Saúde, mas, atualmente, opera esse trabalho em colaboração com a Drogaria Saúde. Estão sendo realizados exames de glimecia e de pele, gratuitamente, cabendo aos pais as medidas que cada requeira.


 

    

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

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Esta foto foi tirada em 1949, em Natal,
no jardim da casa da casa da família constituída por Manoel Genésio e Maria Natividade Cortez Gomes (ao centro, com um bebê, Luiz Gonzaga), tendo à sua esquerda, Iáris (?), filha de Ewerton D. Cortês e Maria José. Ewerton está atrás de Maria José, Cleando e Napier (ou Novais?), filho de tio tio Alfredo Pegado Cortez. À esquerda, estão Iris, filha de Ewerton, Miguel, Carmela (segurando Maria das Graças, Margarida, Francisco de Assis (com as mãos cobrindo o rosto) e Ana Maria, atrás de Cecília (chorando); à esquerda de Manoel Genésio, os filhos Cleóbulo e Cleomedes. Ao fundo, Geralda, Zebinha, e Isaura, filha de tio Alfredo, dona Guilhermina, dona Josefa Gomes , vovó Zefinha e uma senhora cujo nome não identifiquei. A foto era do acervo da família de Nati Cortez e sujeita correções nas identificações dos filhos, parentes e amigos da família.
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domingo, 17 de janeiro de 2010

Sonhos e poemas de Nati.

Sonhos 01

A poetisa Maria Natividade Cortez Gomes – Nati Cortez, deixou vários escritos inéditos. Dentre eles, relatos sobre os seus sonhos que dariam para fazer um bom livro. Mas vamos devagar com o andor. Vamos publicar um poema baseado no sonho de agosto de 1951. O título é "Eu vi Nosso Senhor em Sonho!".

Roxa era Sua veste, a coroa de espinhos,

Cingia-lhe a cabeça ensangüentada.

Ele me fitava com carinho,

E eu sentia a mente arrebatada.

Meu Senhor e meu Deus! Dizia eu, baixinho.

Fitando como amor Sua face sagrada.

E, Ele, se inclinando para mim devagarinho,

Segreda ao meu ouvido: és minha amada.

A Sua voz suave e retumbante,

Forte como deve ser a voz de Deus,

Fez com que eu despertasse nesse instante.

Sim, era o Jesus dos sonhos meus!

O que sentí, Senhor, porque não direi?

Fiquei tão emocionada, que chorei.

Nati Cortez.

Encontrei um manuscrito no qual relata um sonho que ela teve na década de oitenta do século passado. È uma carta para Maria Amélia, filha do escritor Plínio Salgado. Não tem data.

"Presada Maria Amélia, abraços.

Há muito que era para escrever-lhe, mas o tempo e esta doencinha em cima de mim, fizeram com que fosse adiando este meu desejo. Acontece que hoje sonhei com o seu saudoso pai e nosso querido chefe Plínio Salgado. Aliás, esta é a segunda vez que sonho come ele. Na primeira vez, eu levava um prato de comida para onde ele estava. Não sei o significado deste sonho. O de hoje era como se fizesse uma queixa porque eu não escrito mais para a A.I. do Brasil. Ora já que eu alimentava o desejo de escrever para você (desculpe eu tratar-lhe assim) resolvi não adiar mais. Talvez porque eu escrevesse para uma entidade aí de S.P. Era como se dissesse: "você escreve para tal parte e não lembra-se do nosso movimento". Agora estou me penitenciando. Como vai D. Carmela?

Recebi tudo que ela mandou. Luiz Gonzaga foi contemplado com o 1º Prêmio de reportagens "Elias Souto", coma pesquisa que ele fez sobre o levante comunista no RN. O diretor do jornal não gostou porque esse é o 2º prêmio que Luiz Gonzaga recebe. Uma espécie de despeito. Então, o Gonzaga saiu do jornal NE está trabalhando na Assembléia Legislativa. É isto Mandei um pequeno artigo sobre o filme blasfemo "Je vous salus Marie", e até hoje não saiu nada. Contudo, já que Deus é muito bom, convidaram-me para uma entrevista sobre "livros", na TV Educativa , Canal 5. Sai-me bem, apesar de ser tudo de improviso. Recebi muitos telefonemas de parabéns. Disse que tinha 14 livros publicados e 10 inéditos, fora as trovas. Abraços, Nati Cortez.

Continua na próxima semana.


 

sábado, 16 de janeiro de 2010

Um livro sobre Natal dos bonés tempo.

O Livro "Dos Bondes ao Hippie Drive In", a ser lançado brevemente em Natal, aborda de forma leve e curiosa a evolução do cotidiano da nossa cidade cobrindo o período desde 1915 até 1975. Trata-se de uma publicação distinta em relação a tudo que conhecemos de livros sobre Natal. Os autores se inspiraram inicialmente nos relatos, nos documentos e no grande acervo fotográfico disponibilizado pelo pai deles - João Sizenando Pinheiro Filho - que viveu 98 anos. Sizenando foi testemunha ocular dos principais acontecimentos do século XX em Natal. Ele era funcionário público e foi auxiliar direto do então Tenente Ernesto Geisel quando este atuou como secretário geral e chefe de polícia do estado em 1931. A construção do livro foi feita a partir de pesquisas ao longo de oito anos, que também incluiu depoimentos de diversas pessoas que viveram épocas distintas de Natal. As mais de 350
fotografias inseridas - com contribuição de diversos colaboradores - consolidam o diferencial da publicação. Aproveitando uma expressão, em tom de brincadeira, de Fred Sizenando, um dos autores: "trata-se de um Livro Pop, quase um Almanaque".

O livro contém uma série de crônicas que descrevem episódios curiosos, figuras humanas marcantes, hábitos e costumes, tendo como pano de fundo os principais fatos históricos ocorridos na cidade. São sete capítulos, cada um contendo uma média de 10 textos distintos. Os capítulos são: "Natal dos Bondes", "Natal dos voos transatlânticos e dos primeiros cinemas", "Natal dos comunistas e dos americanos", "Natal dos nossos pais", "Natal da nossa infância", "Natal dos gibis e do cinema Rex" e "Natal Pop".

Na parte inicial é abordada a cidade no início do Século XX quando os bondes puxados a burros começavam a ser substituídos pelos bondes elétricos. Os hábitos da população, curiosidades, as formas simples de lazer e diversão. Vale à pena conferir também uma síntese apresentada das edições do ano de 1916 do pasquim "apimentado" denominado "O Parafuso" com editoriais, fofocas, enquetes, anúncios de filmes e notícias que ilustram bem o cenário cultural e político da época.

Figuras populares que caracterizavam o dia a dia dos anos 20 e 30 são descritas com apresentação de causos. Figuras como Gonçalo Pé de Pato, um mulato feio, cheio de bichos de pé, que era metido a bonito e namorador. Outra pessoa resgatada no livro é Sinfronio Barreto, considerado a figura mais popular e caridosa de Natal depois do padre João Maria. As aventuras na juventude de Paulo Lira (1903 -1979) - o mais famoso pianista da cidade - e sua turma no início do século XX são lembradas a partir de depoimento de um dos seus antigos companheiros e do próprio Lira. As inaugurações do Estádio Juvenal Lamartine, do Cais do Porto e do primeiro sinal de trânsito na cidade são descritas e documentadas com fotografias.

Um capítulo especial com muitas informações cobre a história do cinema em Natal, desde a primeira exibição em um Depósito de Açúcar na Ribeira no final do século XIX passando pelas exibições do Polytheama e Royal Cinema.

    Na sequência uma cobertura interessante sobre os voos transatlânticos dos hidroaviões provenientes da Europa e Estados Unidos. A recepção e detalhes curiosos dos aviadores pioneiros. Também são relatados: o incrível "raid" Natal-Rio numa pequena iole; os antigos carnavais; o surgimento da telefonia e as primeiras obras de saneamento da cidade.

    O episódio do
Levante Comunista de 1935 é ilustrado a partir da apresentação de fatos pitorescos envolvendo pessoas comuns. Segue ainda um passeio sobre a vida em Natal durante a II Guerra Mundial e resumo de alguns arquivos secretos da Base Aérea de Natal. Chegando ao período pós-guerra, o livro alcança o prefeito Djalma Maranhão, o programa "De pé no Chão também se aprende a ler", a participação da "Aliança para o Progresso" no governo Aluísio Alves, a revolução de 64, com destaque para as agitações dos estudantes do Atheneu.

    Quem viveu os anos 50 e 60 em Natal vai se deliciar com as crônicas envolvendo as recordações dos autores sobre a infância na Cidade Alta, Praça Pedro Velho, Jardim de Infância Modelo, escolinha da professora Janoca e "Jerônimo o Herói do Sertão". Destaque especial para os jovens "cientistas" da Rua Felipe Camarão que montavam pequenos foguetes para serem lançados na Praia do Forte e em Mãe Luísa. Mais interessante ainda recordar os tempos dos seriados no cinema Rex, a curtição dos gibis e das peladas de rua.

    O capítulo denominado "Natal Pop" cobre principalmente a Natal dos efervescentes anos 60 e 70, a geração "paz e amor", o primeiro biquini em Natal, a Sociedade Cultural Brasil - Estados Unidos (SCBEU), os primeiros surfistas, os festivais de música Popular. Destaque maior para a história do Rock em Natal, com muitas curiosidades - como o Irmão Marista que financiou a primeira banda da cidade- e detalhamento dos principais conjuntos que fizeram a trilha musical de toda uma geração.

Aqueles que conheceram Jerônimo o Herói do Sertão, o Cinema Poti, as tartarugas da Praça Pedro Velho, o Sebo de Cazuza, as matinês no ABC, as "Anastomoses" no América, o "Seu Talão vale um Milhão", a loja de discos de Helisom, e o "Hippie Drive In", certamente não deixarão de se emocionar. E irão relembrar não apenas os fatos narrados, como também inúmeros outros momentos que facilmente se acenderão em suas mentes como um simples duplo clique para acessar algum arquivo de computador.


 

Sobre os autores


 

    Os autores são os irmãos natalenses Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. Eles viveram a infância na Cidade Alta e adolescência em Petrópolis, em frente à antiga sede do ABC. Carlos é biólogo, ex-professor do Atheneu e Fred é engenheiro, atuou muitos anos na TELERN e TELEMAR. Ambos são professores da UFRN. Carlos é vinculado ao Departamento de Biologia Celular e Genética e Fred ao Departamento de Engenharia Elétrica. Esse é o primeiro livro da dupla, a previsão de lançamento é até maio de 2009. Interessados em maiores informações podem ligar para (084) 3201-0111, preferencialmente à noite.

Nota: o livro está à venda na Livraria Siciliano. Preço: R$ 40,00.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Cascudo integralista

A foto é de 1937, quando Manoel Genésio Cortez Gomes (centro, sentado) era o chefe
da Ação Integralista Brasileira no Rio Grande do Norte e Luís da Câmara Cascudo ( o
primeiro da esq. p/ a direita) fazia parte da cúpula do movimento. Ao lado de Cascudo,
o musicista Waldemar de Almeida, Padre Walfredo Gurgel, Manoel Fernandes, o Bilé,
Trigueiro, Cloves Leal de Campos e Carlos Gondim. Sentados, Ewerton Dantas Cortez,
Manoel Genésio e Manoel Lúcio Filho. Extraído do livro "Cascudo, o Camisa Verde",
Natal, 2004, p. 117, de Luiz Gonzaga Cortez Gomes de Melo.
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R. Potengi 2 - Foto de 1966

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Rio Potengi

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Brasil entrou na guerra após o encontro dos dois presidentes


 

Luiz Gonzaga Cortez


 

Uma das mais secretas operações militares das forças americanas em, Natal,durante a Segunda Guerra Mundial, foi o encontro do Presidente Franklin Delano Roosevelt, dos EUA, e de Getúlio Vargas.

A visita do Presidente Roosevelt foi cercada do maior sigilo e nenhum brasileiro residente em Natal sabia da vinda daquele estadista. Nem o Interventor do Estado, Rafael Fernandes, o comandante da Guarnição Militar, general Gustavo Cordeiro de Farias e o Chefe de Polícia, coronel André Fernandes, sabiam. Souberam minutos após o avião americano amerissar no rio Potengi. Foi uma desmoralização para os governantes do Estado, que não eram confiáveis para o esquema de segurança dos gringos. Durante a permanência de Roosevelt em Natal e Parnamirim a segurança foi feita por norte-americanos.

O encontro já foi amplamente relatado em reportagens de jornais e revistas do país, inclusive foi capítulo do livro do médico José de Anchieta Ferreira, "Histórias que não estão na História" (Clima, 1985, Natal, páginas 63/65). A revista Enciclopédia Bloch, de março de 1971, publicou ampla reportagem sobre o Brasil na II Guerra, assinado por Joel Silveira e a foto da capa mostra Roosevelt sentado no banco dianteiro de um jipe, tendo ao lado o general Cordeiro de Farias dando explicações aos dignitários (Getúlio estava sendo atrás de Roosevelt) e oficiais superiores norte-americanos. Nenhum deles sorrindo. A revista registra que a visita foi em março de 1943. Não foi.

Assim como não foi em janeiro de 1942, conforme publicou o suplemento MUITO, de O POTI de 17.09.00, p.3, na matéria assinada pela professora Ana Maria Concentino Ramos (a quem cientifiquei do lapso), sob o título "O Diário e a Segunda guerra mundial".

O lapso não foi só na data e local. Senão vejamos o que diz trecho da matéria: "...No mês seguinte, janeiro de 1942, sob o olhar de uma pequena multidão, pousava no aeroporto de Parnamirim o avião que trazia a Natal os dois presidentes. Aqui, eles acertaram, três anos após o início do conflito nos campos da Europa, estratégias sobre a entrada dos dois países na Guerra".

Ora, o avião do Presidente Roosevelt e comitiva, de regresso da histórica conferência de Casablanca", no Marrocos, portanto, na África, no dia 28 de janeiro de 1943, amerissou no rio Potengi e estacionou na rampa da "Limpa", em Santos Reis. Da Rampa, Roosevelt foi se encontrar com Getúlio Vargas, que se encontrava aqui desde a véspera, num destroier da marinha americana. Veja bem: Getúlio estava em Natal secretamente.

Depois das conversações na belonave ianque, os dois presidentes rumaram para o Campo de Parnamirim, onde os americanos já tinham uma grande base em intensa operação há mais de um ano, num comboio fortemente escoltado por militares americanos, que teria passado pelas ruas Duque de Caxias, Juvino Barreto, Potengi, Praça Pedro Velho e a célebre Pista da Base, hoje duplamente apelidada de Hermes da Fonseca e Salgado Filho. No campo de Parnamirim, que, na época não tinha o Aeroporto Augusto Severo nem similar, pois se tratava de base militar, os dois presidentes pegaram seus aviões e foram embora. Mas até hoje não se conhece o teor dos assuntos abordados pelos dois Presidentes e quantas horas duraram as conversações; quem foi o intérprete; os nomes dos oficiais americanos, dos seguranças (dois aparecem de costas na foto); se o comandante Ary Parreiras escreveu algo a respeito.

Ninguém localizou os meninos que tomavam banho no rio Potengi nos dias 27 e 28 de janeiro de 1943 e que teriam conversado com Getúlio no dia do encontro, que, segundo informações, eles moravam nas Rocas. Impossível? Creio que não. Como não acho impossível dizer quem foi e onde se escondeu logo em seguida, o homem que colocou no ar, na Radio Educadora de Natal-REN, hoje Rádio Poti, o Hino Nacional da Alemanha nazista, fato ligeiramente abordado pelo dr. Eider Furtado em "Memórias em Retalhos" (Muito, p.4, 17.09.00). Sei quem viu, qual o meio de transporte utilizado e o local onde o homem se escondeu após esse rebu. Cleômedes C. Gomes, meu irmão, falou-me sobre o assunto e que conheceu Genar Wanderley. Mas isso é outra história.


 

Luiz G. Cortez é jornalista.

Reescrito em 22.08.08


 

O encontro de Vargas com Roosevelt no rio Potengi

 

Dicionário do folclore brasileiro, uma obra de Cascudo mutilada


 

Por Luiz Gonzaga Cortez


 

O jornalista e poeta Celso Dantas da Silveira partiu sem receber uma satisfação da editora que publicou a última edição do Dicionário do Folclore Brasileiro, de autoria do potiguar Luís da Câmara Cascudo, com a exclusão do verbete criminoso, colaboração do intelectual assuense. O Dicionário foi outro mutirão que Cascudo fez, que redundou em inúmeras transcrições de verbetes elaborados por pesquisadores e folcloristas de todo o Brasil (parte deles relacionados na página XVIII da segunda edição, de 1962, feita pelo Ministério da Educação e Cultura e o Instituto Nacional do Livro). Celso me procurou em 2002, num dos intervalos de um Circuito Cultural Banco do Brasil, em frente ao estádio Machadão, para sugerir que eu fizesse uma reportagem sobre as capações feitas na grande obra de Cascudo, isto é, a retiradas de várias verbetes publicadas em edições anteriores, sem a autorização do autor, tais como criminoso e abusão. "Não se faz uma coisa dessa, é um crime", disse-me. Em seguida, pediu para ir na sua casa para exibir as provas. E mostrou-as, além da carta eletrônica que mandou para a Editora Global, em 2002.

No imeio que Celso da Silveira mandou para global@dialdata.com.br , ele registra que constatou que na edição "Revista, atualizada e ilustrada" houve "inaceitáveis mutilações parciais e até supressões de alguns verbetes e adulterações nas chamadas remissivas que se encontram na obra básica do mestre Luís da Câmara Cascudo, em termos comparativos com a segunda edição de 1962, do INL".

"Durante 39 anos, ao longo de seis ou sete edições seguidas desse livro, foi mantido o verbete CRIMINOSO, jogo juvenil praticado nos anos 40 na cidade do Assu (RN) e Itabaiana (PB), agora suprimido pela professora Laura Della Mônica, falecida recentemente, conforme me foi comunicado pela comissão Nacional de Folclore, cuja presidência é ocupada pelo eminente folclorista pernambucano Roberto Benjamin. Mesmo respeitando a memória, seu conhecimento e erudição e reconhecendo o respeitável cabedal da doutora Laura, em etnografia e folclore, não posso deixar sem registro as lamentáveis omissões encontradas em seu trabalho. O próprio Cascudo, em texto explicativo introdutório ao DFB, diz: "ninguém estuda pré-história, história natural, geologia pelos elementos componentes, REDUZINDO, o material examinado..." e finaliza afirmando que "TODAS as coisas aqui registradas participam indissoluvelmente da existência normal do homem brasileiro". Numa rápida análise da edição Global, pode-se verificar que inúmeros verbetes remissivos foram modificados, de certa forma descaracterizando a obra original. Cito apenas alguns exemplos. Na letra C o verbete crendice pede uma chamada (edição do INL) para abusão. Na edição Global crendice mudou para superstições e suprimiu abusão, na letra A. Abusão, na edição do INL, está abonada pelo livro V, título 3, parágrafo 3 DAS "Ordenações Filipinas".

Acreditava Celso da Silveira que o trabalho da professora Laura Della Mônica foi feito "às pressas, sem revisão da autora antes da publicação" e não deu aos estudiosos as razões sobre a supressão dos verbetes da edição original de Cascudo. "Em folclore nunca se deve suprimir registros de manifestações de costumes e sim acrescer com achegas os verbetes que surgem geograficamente na cultura popular. Quanto mais abonações, mais os fatos folclóricos ampliam a importância do fenômeno lingüístico. Nunca é prudente suprimir, quanto mais quando se trata da obra de um sábio genial do quilate de Luis da Câmara Cascudo", lembrou Celso, que integrava a Comissão Estadual de Folclore do RN. Celso da Silveira fez várias gestões para receber um esclarecimento, inclusive ao seu amigo Roberto Benjamim, em 22 de abril de 2002, a quem escreveu pedindo ajuda para a restauração do verbete criminoso, que desapareceu do Dicionário do Folclore Brasileiro depois de quase 40 anos. Cascudo aproveitou o verbete após ler um artigo de Celso da Silveira no jornal A República, em 1962. A propósito, desconheço qualquer iniciativa dos herdeiros da obra de Cascudo para restaurar as supressões da última edição do DFB, mas sei que são do conhecimento deles.

Nota: tenho cópia da carta de Celso Dantas da Silveira para a editora. Este artigo foi escrito meses após o falecimento do assuense Celso da Silveira.

Câmara Cascudo, um patriota


 


 

*Luiz Gonzaga Cortez


 


 


 

Na infância, através dos inúmeros recortes da Acta Diurna, coluna publicada no jornal A República, guardados com muito zelo pela minha mãe, dona Maria Natividade, comecei a ler os escritos do grande pesquisador e folclorista Luís da Câmara Cascudo. A maioria dos artigos é dos anos 40, estão guardados e sempre relidos e consultados, na minha residência, nesta província potengina. Meu pai era amigo de Cascudo e nunca ouvi falar em nenhuma desavença ou intriga entre os dois, pois ambos, na década de trinta, foram companheiros e militantes da Ação Integralista Brasileira-AIB. Ambos, Cascudinho, como assim minha mãe se referia ao intelectual na rua Junqueira Ayres, e Manuel Genésio, meu pai, foram chefes da AIB no Rio Grande do Norte. Através dos meus pais, fui levado a assistir as conferências de Cascudo no Instituto Histórico e Geográfico, já capitaneado pelo incansável Enélio Petrovich, no inicio da década de ´60. Nessas ocasiões, meu pai, trajando paletó, como era costume na época, seja lá qual fosse a temperatura, era cumprimentado pelo presidente do IHG e Cascudo, na entrada da instituição, ao lado do corrimão de ferro e madeira, onde Cascudo gostava de permanecer até o inicio da magna sessão. Assisti a muitas sessões e uma que chamou muita atenção foi a palestra proferida pelo general Muricy sobre o regime que se instalou no país após abril de 1964 e uma tal de "guerra revolucionária". O que chamou a atenção foi na noite em que as dependências do Instituto Histórico ficaram superlotadas pela fina flor da burguesia potengina (políticos, padres, empresários, intelectuais, etc) e lideranças sindicais.

Cheguei a escrever para o grande mestre do folclore brasileiro sobre cientistas e pesquisadores potiguares, recebendo algumas sugestões dele, mas até hoje não consegui recuperar as cartas de Câmara Cascudo, levadas para o 16º Regimento de Infantaria, no segundo semestre de 1968, pelos tenentes do Exército Adalberto e Oliveira, num "rapa" efetuada na rua Felipe Camarão, 453, em busca de provas para me acusarem de ser um perigoso agente comunista dentro do quartel.

Estou fazendo essas referências por causa dos comentários mentirosos que estão fazendo no "eixo da maledicência", como é conhecido certo trecho do centro de Natal, a respeito da capa do livro "Câmara Cascudo, o camisa verde", editado por nós em julho passado, que infectaram certas pessoas de bem, que não leram o livro ou não se preocuparam em averiguar a veracidade. A foto da capa é uma reprodução de um cartaz impresso na gráfica do Senado Federal, em Brasília, por volta de 1983, integrante de um conjunto de cartazes publicados pela Fundação José Augusto, dentro do programa "Documentos Potiguares", coordenado pelo sociólogo Leonardo Barata. A foto é de Cascudo ao lado de outros integrantes da AIB/RN, todos com camisas verdes, gravatas pretas e o sigma no braço, como o advogado Eider Furtado viu no bairro do Tirol, por volta de 1936 e descreve algumas cenas dos integralistas exercitando fisicamente ("Audiência de um tempo vivido", Natal/RN, ed. do Autor, 2004), p.41). Não sei se Eider Furtado viu bigode em Cascudo. Na foto, Cascudo está com bigode igual ao usado pelo escritor católico Plínio Salgado, aí por volta de 1934/35, que muitos confundem com o bigode de Adolf Hitler. O bigode de Hitler era debaixo do nariz. Os bigodes de Plínio e Cascudo eram mais largos e espessos. A intenção do autor não foi mostrar um bigode hitleriano em Cascudo, que nunca foi nazista. Cascudo pode ter sido germanófilo, talqualmente como quase toda a intelectualidade brasileira, inclusive a cúpula do Exército Brasileiro e o próprio ditador Getúlio Vargas, hoje largamente incensado por setores da esquerda trabalhista. Naquela época, a Alemanha era a nação mais desenvolvida, militar e tecnologicamente. Os pais ricos mandavam seus filhos estudar na Alemanha, como foi o caso do norte-rio-grandense Raul Fernandes, médico, que aperfeiçoou seus conhecimentos na pátria de Hitler.A admiração pela Alemanha durou até o inicio da Segunda Guerra. Luiz da Câmara Cascudo não poderia ser admirador dos nazistas. Primeiro, porque Plínio Salgado fez duras críticas ao nazismo, em 1936, por causa das perseguições que os católicos e judeus alemães sofriam da polícia política, na Alemanha, sob o silêncio e a omissão das potências européias. Quem apoiou o nazismo, do começo ao fim, foram os luteranos que, nas zonas rurais, forneceram os jovens guardas dos campos de concentração. Segundo, o integralismo existiu de 1932 a 1937. Terceiro, a partir de 1941, quando o Brasil se aliou aos norte-americanos, Câmara Cascudo foi o Chefe do Serviço da Defesa Passiva Anti-Aérea de Natal, que treinava e congregava a população civil para o caso de um possível ataque aéreo dos alemães que estavam acantonados no norte da África. A "Defesa Passiva" era intimamente ligada aos comandos militares brasileiros e americanos. Se Cascudo fosse nazista ou admirador de Hitler, naquela época, seguramente, ele não teria sido chefe da "Defesa Passiva". Os americanos não iriam aceitá-lo, claro. A versão de que os espiões americanos (protestantes) relataram ao FBI que Cascudo era germanófilo é outra história suspeita porque foram inventadas nas mesas de bares da Ribeira e por informantes que eram pingunços contumazes que queriam mostrar serviços à inteligência militar americana.

Além de grande folclorista e pesquisador pioneiro, Luís da Câmara Cascudo, por ter atuado na Ação Integralista Brasileira, uma organização conservadora, de direita, nacionalista e cristã, que sofreu influência do fascismo italiano (que iniciou o totalitarismo de direita), sob o beneplácito da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, pesquisado a cultura popular brasileira como um grande repórter, mesmo sem a utilização de critérios científicos, foi um patriota, um homem bom, querido por todos, em qualquer parte da cidade, em qualquer ambiente social, nos clubes sociais da pequena burguesia ou na baixa Ribeira. Foi um homem pecador como todos nós, pois nesta taba potengina não há nenhum santo nem gênio. Gênio, nunca tivemos nenhum. Foi um grande intelectual, talentoso, inteligente, capaz de proferir conferências durante horas sem um roteiro prévio, pois falava de improviso, em português, sua língua pátria (aqui e acolá ele gostava de citações em francês). A sua produção intelectual supera os possíveis erros políticos. Foi integralista e morreu integralista e o dr. Clóvis Travassos Sarinho garantiu isso em 5 de dezembro de 1991, em palestra proferida no Instituto Histórico, com a presença dos seus filhos Fernando e Ana Maria, inclusive ( e está gravado), ocasião em que disse "Jamais renegou suas idéias. Jamais ocultou seu passado integralista. Participou dos 25 anos da AIB, no dia 7 de outubro de 1957, em Natal, prestigiando com a sua presença a sessão solene.Assinou Idade Nova e A Marcha" ( publicações integralistas e do PRP que circularam nos anos 50 e 60). Cascudo foi integralista, sim, nazista, não! Quem diz o contrário, não sabe nada da nossa história. Para encerrar, como diz Ademar de Araújo Valente, o resto é merda , sabão e breu. Tenho dito.


 

*Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Natal de antigamente era um


Natal com espírito cristão.

 

Após as comemorações não muito cristãs, isto é, que se caracterizaram pelo paganismo, consumismo e outros ismos, sem esquecer alcoolismo, tragédias, acidentes e as "n" mortes violentas, escolhi um trecho do livro de Nati Cortez, "Natal do meu tempo de menina", publicado na coluna do jornalista Carlos de Souza, em 19 de agosto de 1999 (Muito, Diário de Natal). Ele foi aproveitado e publicado na série de Crônicas Natalenses com o título "Natal de Outrora". Façamos uma comparação com os velhos tempos com o texto a seguir:
"Antigamente a vida em Natal era mais agradável. Do começo deste século até certa época, a existência dos seus habitantes transcorria mais alegre, mais serena, mais feliz.
Ah! Tempos saudosos aqueles!
A infância, quadra risonha da vida, época em que a criatura a desfruta sem preocupações e tristezas, decorria numa ambiente sadio, livre dos perigos de hoje, onde a qualquer passo se depara com esta avalanche de costumes perniciosos, quais sejam, rádio e cinema inconvenientes. Quantas brincadeiras inocentes, quantos divertimentos inofensivos!
Aos domingos, a garotada reunia-se para subir no "pau de sebo", quebrar o "gato no pote", brincar de circo, etc.
A cédula no topo do "pau de sebo" atraía as crianças. Só se via gente subindo e descendo,até que um mais felizardo conseguia triunfar na peleja..
Agora tudo mudou. As crianças, sabidíssimas, brincam de caubói e só falam em cinema.
Na noite de Natal, era célebre a lapinha na casa de dona Vicencinha Lucas, na Rua Silva Jardim, na Ribeira. Tomei parte muitas vezes neste folguedo tradicional. Os ensaios da lapinha constituíam-se em verdadeiros centros de atração popular. O "ensaio geral" era uma verdadeira festa. A residência de d. Vicencinha ficava repleta de pessoas das mais diversas classes sociais.
A torcida era renhendíssima. Os vivas dos adeptos do "cordão azul" eram estridentes,como também os do encarnado. As pastoras caprichavam para bem desempenhar os seus respectivos papéis.
No dia da queima da lapinha, a azáfama era um fato. Sendo a última noite de brincadeiras e, conseqüentemente, a da vitória de um dos partidos, todos, participantes e assistentes, se esforçavam em fazer triunfar as cores de suas preferências.
O entusiasmo atingia o auge quando as ciganas penetravam no tablado. Elas entravam cantando assim:
"Somos ciganas do Egito,
Que viemos de Belém,
Adorar o Sumo Bem (bis)
Me dêem uma esmola,
Pelo amor de Deus,
Que a pobre cigana,
hoje não comeu." (bis)
As moedas e cédulas choviam nas sacolas das ciganas".
Trecho do livro "Natal da minha vida de menina", de autoria de Nati Cortez, escrito em 1960,em Natal/RN. Dedico essa veiculação a prima-irmã de Nati Cortez , Célia de Lima Dantas, residente no bairro Potilândia.