domingo, 1 de abril de 2012

Chico Anisio, chorinho e discos voadores.

Aproveitando o gancho da coluna do professor Woden, republico a edição de hoje para lembrar aos seus milhares de leitores que o grande Chico Anísio, em entrevista concedida a Roberto D'Ávila, reprisada após o seu falecimento, revelou o seu lado espiritualista e de ufólogo. Contou que viu um disco voador em Natal, quando estava hospedado no Hotel Reis Magos, cuja data não foi revelada, mas que chamou várias pessoas para testemunhar a aparição, em alto mar, à noite. Gutemberg Costa, pesquisador de folclore e que está preparando uma antologia de mulheres cordelistas do RN, me disse que prepara um verbete sobre Nati Cortez, como a primeira mulher que pesquisou discos voadores no Rio Grande do Norte e que escreveu cordel. Luiz G. Cortez, jornalista.

JORNAL DE WM

por Woden Madruga

Esta coluna é atualizada diariamente

Gente da gente

01 de Abril de 2012
tamanho do texto A+ A-
Tiro da gaveta o Jornalzinho do Sebo Vermelho (invenção de Abimael e Carlão) de novembro de 1955. Número 30, ano VI. Na capa, Ademilde Fonseca: “Ademilde Fonseca: Rainha do Chorinho”. O Sebo Vermelho não explica porquê Ademilde Fonseca. O bom do Jornalzinho, no tempo que ele circulava, é que não explicava o porquê. Era como se fosse um mural. Ia colocando as coisas. Por exemplo, entre alguns anúncios que, certamente financiavam o papel, tinha um da deputada Fátima Bezerra e ao seu lado, outro do “Viver Bar e Restaurante”. Noutro canto, “Carne e Queijo de Caicó”. E por falar em Caicó, na coluna “Boatos”, assinada por Macaco Tião, tem esta nota: “Moacy Cirne esteve em Natal, visitou o novo endereço do Sebo Vermelho e reencontrou velhos amigos, tipo Falves Silva, Anchieta Fernandes, Jarbas Martins, e com eles curtiu merecidas férias em uma Natal quase moderna e contemporânea”. É a melhor definição de Natal nestes últimos 100  anos.


E Ademilde Fonseca? Nas duas páginas centrais está o assunto da capa, repetindo a manchete “Ademilde Fonseca: Rainha do Chorinho. São vários textos. Numa página inteira, o Jornalzinho transcreveu todo o encarte do disco “Ademilde Fonseca & Seus Chorões Maravilhsos”. Conta a trajetória artística da grande cantora, que morreu esta semana no Rio de Janeiro, aos 91 anos. Começa assim:



 - O choro é um gênero genuinamente carioca, mas a “Rainha do chorinho” veio do Rio Grande do Norte para arrebatar um título e um cetro que nunca mais lhe saiu das mãos. Ademilde Fonseca é de Pirituba, cidade plantada no Município de Macaíba. Lá nasceu no dia 4 de março de 1921. Mas só vinte anos depois é que viria para o Rio de Janeiro, e vale a pena contar (bastante por alto) o que se passou nesse período. Com três  anos de idade já cantava (“e com desembaraço” – afirma hoje) um choro seresteiro cujo nome não guarda. No Grupo Escolar “Antônio de Souza” – onde acalentava seus sonhos de vir a ser professora – ela aprenderia, com seu companheiro de brinquedos Geraldo Gomes, a letra do “Tico tico no fubá”, de Zequinha de Abreu, que a mãe de Geraldo Gomes, tentava ensinar ao garoto.”



Mais adiante:



- Em 1942 vamos encontrá-la fazendo um teste na Rádio Clube do Brasil, onde obviamente foi aprovada. Começa uma vida semiprofissional, cantando (mas sem receber nada) com o conjunto regional de Benedito Lacerda. Com o grande flautista, comparece um dia a uma festa grã-fina e pede a Lacerda para acompanha-la no “Tico tico no fubá” – o que causa surpresa ao próprio instrumentista: “Isso não tem  letra, menina!” E no dia seguinte, lá está Ademilde diante de João de Barro, o célebre Braguinha – que logo autorizou a gravação de um 78’’ (Disco Columbia n. 55.368, 10-07-42). A partir daí, conhece o sabor da fama: assina com a Tupi (das Emissoras Associadas) em 1944, apresentando-se com os regionais de Claudionor Cruz e Rogério Guimarães. 



Uma fonte excelente para quem desejar pesquisar Ademilde Fonseca é “O Dicionário da Música do Rio Grande do Norte”, de Leide Câmara, que também criou e dirige o “Acervo da Música Potiguar”, um arquivo fabuloso, como poucas instituições no gênero. O verbete se estende por três páginas e meia batidas.



Chico e Hianto



Mário Sérgio de Sá Leitão, o maior pesquisador litero-musical da Reta Tabajara, me disse, uma manhã dessas, na calçada do Cova da Onça, que a imprensa de Natal, ao registrar a morte do humorista Chico Anísio, passou batida quando se esqueceu de lembrar sua parceria musical com um dos mais importantes compositores do Rio Grande do Norte, o Hianto de Almeida. Também, um dos percussores da Bossa Nova ( algumas de suas composições tiveram arranjos de Tom Jobim, e em 1952, no início de sua carreira, João Gilberto, gravou um samba-canção de Hianto, chamado “Meia Luz”).



Me assegurou Mário Sérgio que Chico Anísio foi parceiro de Hianto de Almeida em mais de vinte composições, todas gravadas e a maioria delas interpretadas por cantores e cantoras famosos como Orlando Silva, Pery Ribeiro, Dircinha Batista, Maysa, Trio Irakitan, Trio Marayá, por aí. Mario vai debulhando, de cor, sem parar, não sei quantas músicas. Aqui e acolá, solfejando, uma, duas, três. Ele, então, desconfiou que eu não estava acreditando no papo. E disse: Se você não acredita, quando chegar em casa  consulte o Dicionário de Leide Câmara.



Não duvidei do meu amigo Mário Sérgio, filho de um grande amigo, o sempre saudoso José Waldenício de Sá Leitão, também amante de uma boa música e de uma santa boemia, ao lado de parceiros famosos, como um Silvio Caldas, por exemplo, quando o grande seresteiro vinha por estas bandas. Mas quando cheguei em casa fui direto ao dicionário de Leide. Tem seis páginas sobre Hianto de Almeida. Tudo, incluindo a discografia do compositor existente no Acervo. Destaco uma das passagens do verbete:



- O humorista Chico Anísio, parceiro de Hianto de Almeida em cerca de 24 composições, ao ser entrevistado pela revista Playboy (n. 148, edição de novembro de 1987, p. 65), respondeu ao repórter que lhe perguntou se tinha alguma música composta em parceria com Tom Jobim: “Tenho a grande honra de dizer que o primeiro arranjo do Tom foi em cima de uma música com letra minha, ‘Conversa de sofá’”. E continuou Chico Anísio: “ Acho que foi aí que ele aprendeu a compor, porque descobriu que a música de Hianto de Almeida, tinha uma sequência e foi em cima”.



Socorro Trindad



Nesse número do Jornalzinho do Sebo Vermelho, anotado lá em cima, tem um texto de Anchieta Fernandes comentando o livro da escritora Socorro Trindad, O Dia Público e Outros Dias. Começa assim: “Socorro Trindad é uma das boas escritoras norte-rio-grandenses de nosso tempo. Embora diversificando-se através de mais de um gênero é no conto que o seu talento brilha mais (...)”



Quinta-feira, vaquejando publicações sobre Millôr Fernandes encontrei  numa das minhas gavetas um número do “Pasquim”. Era de 30 de janeiro de 1985, que traz um artigo de Millôr, publicado em 1973, Réquiem. Era como o prenúncio da morte do semanário sufocado pela censura da ditadura. Que não aconteceu. O Pasquim resistiria até novembro de 1991,



Acontece que neste número do Pasquim, tem um anúncio do lançamento de um livro de Socorro Trindad, Eu não tenho palavras, no Rio de Janeiro. O anúncio é da Codecri, que editava o Pasquim e que publicou muitos livros durante a sua existência, inclusive de Henfil. Diz lá: “Você está convidado para o lançamento de “Eu não tenho palavras...”, dia 28.01.85. Palestra com Affonso Romano de Sant’Anna, Jorge Sá, Moacy Cirne e Socorro Trindad. Show musical com Terezinha de Jesus, Babal e outros. A partir das 20 horas na ABI”.



Por onde anda Socorro Trindad?