Diplomata afirma que Exército
Construiu poços nas praias do RN.
Luiz Gonzaga Cortez.
O ex-combatente da II Guerra Mundial, o embaixador Nestor dos Santos Lima, 85, natalense residente no Rio de Janeiro, confirmou que existiam poços (cacimbas) nas praias do litoral sul do Rio Grande do Norte e que o serviço de abastecimento d'água dos soldados acampados em Ponta Negra, Pirangi e Búzios era de boa qualidade e que nunca faltou água no período em que serviu no Exército.
Nestor Lima, aposentado do Itamaraty, disse que serviu como soldado e cabo do Exército, andando a pé em quase todo o litoral sul do RN e que os acampamentos foram instalados nas praias que tinham boas condições de possíveis desembarques de tropas alemães, uma ameaça que nunca se concretizou, pois os inimigos não chegaram a iniciar os preparativos no Norte da África, onde os germânicos foram derrotados pelas forças inglesas."Fui convocado, servi num destacamento de vigilância da costa, isto é, nas praias que eram consideradas possíveis objetivos dos alemães, com água e terrenos próprios para desembarques. Ponta Negra, Pirangi e Búzios tinham essas condições. A água era boa e vinham de poços cavados nas praias, possivelmente feitos pelo Exército, eu não tenho documento disso. Mas se poderia consultar os arquivos do Exército para se inteirar melhor. Eu não tirei fotografias desses poços", disse o embaixador Nestor dos Santos Lima.
A afirmação de que não tirou fotos das cacimbas em Búzios e/ou de outras praias, nos remete à pergunta feita por mim de se era verdade que ele, Nestor dos Santos Lima e o soldado Francisco Gurgel dos Santos, já falecido, atuaram no Serviço de Censura do Exército durante o período da guerra, lendo, transcrevendo e fotografando correspondências em geral nos Correios, em Natal. "È verdade, não é bom dizer isso, não, mas eu não escondo. Fui convocado e prestei o meu serviço à pátria. Também trabalhei na censura do Exército", disse Nestor dos Santos Lima, que atingiu o posto de 2º tenente ao fim de 7 anos no Exército, instituição que considera um grande escola. Por telefone, o ex-militar e diplomata aposentado lembrou que os soldados andavam muito a pé, nas praias do litoral sul, por causa da escassez de veículos de transportes, sendo que as primeiras caminhadas de instrução foram feitas entre Natal e a praia de Ponta Negra. Eu enviei, por imeio, fotos de ex-pracinhas acampados em praias potiguares, nas quais aparece o Sr. Francisco Gurgel dos Santos (1918-2000), ex-funcionário do Banco do Brasil e chefe dos escoteiros do Alecrim, mas não reconheceu nenhum deles, "até agora". Afirmou que o seu comandante era o capitão Goitá e o conterrâneo José Dantas, já falecido, era do seu destacamento. "Foi bom o período de Exército. Peguei uma cadeia de 8 dias, mas serviu de lição para mim, pois errei e fui punido", disse Nestor Lima.
Dona Efigênia dos Santos, viúva de Francisco Gurgel dos Santos, o soldado-fotógrafo que foi colega de Nestor, disse ao repórter que o Cabo Nestor foi solto no 5º dia de cadeia. "O que ocorreu foi que o Exército implantou um grupo de cavalaria e Nestor, o meu marido e muitos outros, cavalgaram pelas praias num certo período. Numa ocasião, um oficial disse que tivesse cuidado quando fossem puxar as rédeas, pois se você puxar para a direita, o cavalo vai pensar que você quer ir para a direita. Aí Nestor disse que nunca ouviu falar em cavalo que pensa. Recebeu voz de prisão na hora e recolhido. Mas 5 dias depois chegaram os americanos no quartel e, como ninguém sabia falar inglês, o comandante cancelou a punição, soltou Nestor porque ele sabia inglês e ficou sendo intérprete", disse dona Efigênia de Medeiros Santos.
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