quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Natal tem cientista internacional nascido na Cidade Alta

Cientista e empresário brasileiro

Vai investir no Rio Grande do Norte

Luiz Gonzaga Cortez

Entrevista exclusiva para o Jornal de Hoje.

O cientista e empresário Carlos Alberto Paz de Araújo, sócio majoritário da Simetrix Corporation, com sede no Colorado, EUA, anunciou que vai investir no Rio Grande do Norte na área de biocombustíveis e na formação de um núcleo de desenhos de projetos de alta tecnologia. A empresa Simetrix está investindo mais de 2 bilhões de reais na implantação de uma fábrica de chipes em São Carlos-São Paulo e de um fundo de investimentos em tecnologias de semi-condutores. Apesar da crise financeira mundial, Carlos Paz está otimista com o desenvolvimento dos seus projetos no Brasil, inclusive no avanço das pesquisas com biocombustíveis, pois, nessa área, "o empresário paulista não quer mais investir em cana-de-açúcar, mas em tecnologias avançadas em biocombustíveis. Avançamos muito nas pesquisas da planta que nasce na seca e produz combustível. Não posso revelar o nome da planta, mas o seu desenho genético já começou. Para o Seridó potiguar vai ser uma beleza", disse Carlos Paz.

O empresário Carlos Paz, nascido em Natal, mas cidadão norte-americano e professor da Universidade do Colorado, esteve em São Paulo e Brasília, mantendo contactos com empresários brasileiros e autoridades governamentais sobre os seus projetos. Visitou o senador Garibaldi Filho, na semana passada ("uma visita social"), ocasião em que expôs os planos da formação de um fundo de recursos privados e públicos para implantação de empresas que comercializarão todas as suas invenções (chipes, cartões voláteis, biocombustíveis). Após ouvir a sua explanação sobre o cultivo da "planta da seca" no RN, Garibaldi Alves Filho disse que "isso vai ser uma revolução econômica no Rio Grande do Norte". Carlos Paz já patenteou as suas invenções na área de biocombustíveis nos Estados Unidos, mas considera que ainda é cedo para revelar os seus detalhes. Também guarda segredo sobre o nome de "um grupo forte" potiguar que se associará à Simetrix, assim como de outros empresários que poderão participar do fundo de investimentos científicos. Para se juntar ao seu grupo, Carlos Paz disse que o empresário somente será aceito se tiver bons antecedentes, isto é, ser honesto, ter conduta ilibada e cristão. "Ter que ser uma pessoa boa, ética, honesta e cristã porque não quero me misturar com quem não presta", lembrou.

Inicialmente, a Simetrix vai iniciar nos próximos meses a implantação de um centro de desenhos de chipes ("design house"), com o aproveitamento de 20 técnicos especializados, que serão treinados por profissionais de alto gabarito da China, que deverão chegar em julho vindouro. O local do centro de desenhos de chipes será em Natal, mas não foi revelado o seu endereço. Tudo isso é resultado do convênio da Simetrix com a Universidade de São Carlos/SP, com pesquisas já iniciadas e "pessoal animadíssimo" com o sucesso futuro, estando prevista a associação com uma indústria nacional ou a criação de uma empresa. A "design house" será a ponte de Natal com São Carlos/SP com o seu trabalho eminentemente eletrônico. O fim da parceira da Simetrix com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ao contrário do que se esperava, possibilitou a abertura do escritório. Na semana passada, emissário da Simetrix recebeu todos os computadores e equipamentos que tinha cedido à UFRN, através da doutora Ana Maria Guerreiro, que fez doutorado com Carlos Paz, na Universidade do Colorado, durante 4 anos. Sobre o fracasso da implantação de um sistema informatizado entre os hospitais públicos do RN, tendo como modelo o Hospital Ana Bezerra de Santa Cruz, ele não quer se aprofundar, mas informou que "a possibilidade de uma fraude está sendo investigada". E garantiu: a fábrica de chipes e cartões que seria construída em Recife/PE, poderá ser transferida para o RN. Quando, onde e como? Carlos Paz silencia. "Essas coisas temos que tratar com muito segredo, não é, Cortez?".

O mercado de memórias ferroelétricas, patenteadas por Carlos Paz, está em crescimento e já existem mais de um 1 bilhão e 600 milhões de unidades no planeta. A China vai abrir uma fábrica de semi-condutores ferro-elétricos e já se tornou o maior mercado mundial, ultrapassando os Estados Unidos, informou o empresário


 

Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador.

Mais dois poemas

Ano Novo


 

---Ordena, tu que és rei.

Se foste inclemente,

Se foste impiedoso para tanta gente!

Se para muitos mandaste lágrima,

Se para outros, risos e esperanças

No ano que passou.

Se para mim, sorrisos, muitas graças, poucas dores,

Eu te agradeço esses favores,

Eu, tua súdita fiel,

Que te pede, que te implora

humildemente, com fervor:

Ano Novo!

Piedade para os que mendigam o pão de cada hora,

Piedade para os que choram,

Para os que esperam de ti,

Paz e Bonança!

Ano Novo!

Piedade para os que não têm esperança

No cárcere da justiça humana!

Piedade para os pecadores,

piedade para os sofredores!

Ano Novo!

Olha para o nosso Brasil,

Para esse céu de anil.

Dá, Ano Novo, aos chefes da Nação, muito sucesso,

discernimento, coragem e união,

Para bem dirigi-la nos caminhos brancos da Ordem

E do Progresso!

Ano Novo!

Tu que és governado pela Sabedoria Divina,

Tu, que marcas o destino no tempo,

Ordena, a todas as coisas, aos homens, com fervor,

Sem distinções de classe, de credo ou cor,

Ordena aos súditos teus:

PAZ e AMOR!

Maria Eugênia Maceira Montenegro

Assu, 1º de janeiro de 1972.


 

Poema da amiga de Nati Cortez (MARIA NATIVIDADE CORTEZ GOMES (1914-1989), transcrito do mensário "Jornal de Poesia", nº 62, Ano 08, Recife/PE, fevereiro de 1972, página 01. Na mesma edição, foi publicado o soneto "A Transamazônica", de Nati Cortez.

Sonho arrojado, gigantesca meta,

"Transamazônica", idéia genial.

Avança palmo a palmo em linha reta,

A ciclópica estrada nacional.

Na terra milenar surgiu concreta,

Assombrosa, heróica, portentosa,

Das Américas, a obra mais completa,

Do Brasil será a glória mais famosa.

Estrada colossal, os teus pioneiros,

Não temem a floresta misteriosa,

Nem tacapes dos índios verdadeiros.

Desbravando dirão ao mundo inteiro:

Na "Transamazônica" fabulosa,

O valor do governo brasileiro.

Maria Natividade Cortez Gomes.

Maria Eugênia M. Montenegro e Antídio Azevedo eram os representantes do RN no Conselho Editorial do Jornal de Poesia dirigido pela fundadora e proprietária Evangelina Maia Cavalcanti.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Nati Cortez, mãe do ano

Relembrando Câmara Cascudo,

O integralista amigo do meu pai


 

*Luiz Gonzaga Cortez


 

Andam dizendo por aí que eu tenho alguma coisa contra o mestre Cascudo; que o meu pai pode ter sido inimigo dele, algum interesse contrariado, alguma vindita, etc. Não, não tenho, não tive e não vou Ter nada pessoal contra Cascudo. Nunca houve motivo. Pelo contrário, eu tinha uma carta dele para mim e levei para o quartel em 1968, quando prestava serviço militar obrigatório. Servi quase onze meses no Exército, pois não tinha pistolão para ser adido no QG ou ser dispensado. Pois bem, naquele ano fui denunciado pelo pai de um amigo meu de que eu era comunista (há!, há!, há! ), fui preso , armário revistado, residência e biblioteca "visitada', sem autorização de meus pais, por 2 oficiais do Exército ( Oliveira e Adalberto). Levaram livros, objetos e cartas pessoais, inclusive a de Cascudo. Recentemente, solicitei as cartas, os objetos e os livros, mas o comandante do 16 RI disse que nada foi encontrado. Pena. Pra mim, a carta de Cascudo era muito valiosa.

Mas o meu pai, que faleceu em 1975, foi amigo de Cascudo até o fim da vida. Através dele, conheci o nosso folclorista no Instituto Histórico e Geográfico, por volta de 1964. Minha mãe, essa era fã de Cascudinho, como ela e os natalenses da sua época, chamavam o nosso escritor maior. Ela era recortava e guardava os artigos de Cascudo publicados n' A República, nas décadas de 40 e 50 ( muitos deles estão comigo).

Tudo isso estou comentando porque um jornalista, intelectual e poeta conterrâneo, que me sugeriu aprofundar uma pesquisa sobre Cascudo, pelos ângulos não divulgados, a partir da sua demissão do cargo de professor da antiga Faculdade de Filosofia de Natal, me disse recentemente que muita gente indagava os porquês dos meus artigos "contra' Cascudo publicados na imprensa natalense. A demissão teria partido de Hélio Galvão, mas até hoje não encontrei nenhum documento comprobatório dessa demissão, mas o meu ex-professor do curso de jornalismo continua afirmando que houve a demissão, no inicio do governo de Aluizio Alves. Ao dileto e bonachão amigo respondi que nunca houve inimizade entre os meus pais e Cascudo, que sou admirador dele e que fiz aqueles artigos "contra" Cascudo por sugestão dele. Mas isso é outra história.


 

Foi em 1957, que vi o folclorista Luís da Câmara Cascudo, o ícone do pensamento conservador do Rio Grande Norte, pela primeira vez, na residência dos meus pais, na rua Felipe Camarão, 453, Cidade Alta. Eu tinha oito anos de idade. A casa era grande, cerca de 8 quartos, sala de jantar espaçosa, alpendre e um frondoso cajueiro na frente, reformada por volta de 1960, sem luxo. De moderno, somente uma radiola que tocava discos de Amália Rodrigues e Osni Silva. A casa era grande e bastante freqüentada pelos amigos e amigas da família que, muitas vezes, chegava gente do interior, a pé, vindo da Ribeira, com malas e bagagens, pedindo quarto para alugar. Pensavam que ali era um hotel.

Então, numa noite de maio de 57, no Dia das Mães, após a minha mãe, Maria Natividade Cortez Gomes, então com 44 anos, recebeu o título de Mãe do Ano – ela tinha 17 filhos - , em solenidade realizada nos estúdios da Rádio Nordeste, muitas pessoas foram para a nossa casa. A promoção foi da jornalista Luiza Maria Dantas, cronista social, com apoio da Prefeitura e do Governo do Estado. Não sei como Luiza Maria escolheu dona Nati como a Mãe do Ano, mas soube muitas mães de famílias numerosas participaram do concurso. A mãe que obteve o segundo lugar foi a esposa do dr. Otto de Brito Guerra, dona Selda Guerra. O prefeito Djalma Maranhão e o escritor Luís da Câmara Cascudo foram participar da festa que o meu pai, Manuel Genésio, ofereceu a diversos convidados, na sua maioria familiares, parentes e amigos. O poeta Jaime Wanderley, um homem sorridente, galego, de olhos azuis, estava lá, com a sua simpática esposa, representando o Governador Dinarte de Medeiros Mariz, de quem o meu pai divergia politicamente. Minha mãe foi premiada com um estojo de louça. ( O poeta Jaime dos G. Wanderley fez a entrega do prêmio no estúdio da Rádio Nordeste, fato registrado pela imprensa).

Não sei porque "cargas d'água", Cascudo, sentado numa cadeira espaçosa da segunda sala da casa, perguntou ao meu pai o que achava da presença do prefeito Djalma Maranhão ali. Djalma era considerado um notório comunista, envolvido na insurreição de novembro de 1935. Manuel Genésio, ex-integralista e anti-comunista juramentado. O meu pai não contava com a presença do prefeito em sua casa. A festinha não passou da meia-noite, mas, em dado momento, Cascudo perguntou : "E aí, Manuel, como você está vendo a presença do prefeito em sua casa?". "É, ele já está aqui, que fique", foi a resposta de Manuel Genésio. Cascudo, que segurava um copo ( não se com guaraná ou uísque), sorriu e ficou conversando amenidades, isto é, sobre aquela ruma de meninos e meninas que se encontravam ali, olhando para eles. Parte da meninada da rua Felipe Camarão estava lá. Bebidas e tira-gostos foram servidos. Quando a festa acabou, fomos dormir nas esteiras de agave (sisal).


 

A segunda vez que avistei Cascudo foi no auditório da Reitoria da Universidade, em 30 de agosto de 1966, onde o ministrou um curso sobre Cultura Popular no Brasil, patrocinado pelo Serviço Cultural da Secretaria de Educação e Cultura do Estado (Ilma Melo Diniz era diretora do SC da SEC e Jarbas Bezerra o secretário de educação). O auditório estava lotado e me recordo que estavam lá Inácio Sena, o jornalista Celso da Silveira, que ria muito com a comicidade de Câmara Cascudo. Me lembro que Cascudo falou que os originais de um livro seu, Civilização e Cultura, estava extraviado, "mas eu vou publicá-lo" (risos). Na verdade, uns dois ou três anos depois os originais foram achados e publicado o livro. A platéia riu muito quando ele disse que houve um movimento para tirar o general Napoleão Bonaparte, preso na Ilha de Santa Helena, e trazê-lo para a Barra de Cunhaú, em Canguaretama/RN. Outras pessoas se levantaram, rindo, e se retiraram. E não se falou mais em Napoleão.

Creio que foi em 1965 que Cascudo foi chamado de mentiroso por um homem, vestido de paletó, quando proferia uma palestra no Instituto Histórico, na rua da Conceição. Nesse tempo, Enélio Petrovich já o presidente do Instituto. O homem tinha voz "grossa", meia "tonitroante". Cascudo estava falando na tribuna quando o salão foi perturbado pelo grito do homem, a partir de uma janela do Instituto, ao lado da entrada. Eu tinha ido com os meus pais; estava sentado ao lado da minha mãe, quando ouvi o grito. Eu me virei para ver quem tinha gritado, mas não vi o rosto do homem. Minha mãe me disse: "foi o professor Esmeraldo". Cascudo não se alterou, continuou falando. Ninguém deu a mínima. Na manhã do dia 18 de setembro de 2000, na entrada da Biblioteca Central do Campus, me encontrei com Juliano Siqueira, filho de Esmeraldo Siqueira e contei o episódio. Juliano disse que o fato era procedente, mas quem tinha gritado tinha sido Milton Siqueira, seu tio, e não o seu pai. Esmeraldo e Milton eram irmãos, poetas e usavam paletós.

Em 1966, na Escola Industrial de Natal - EIN, Cascudo deu uma palestra para os alunos, após receber uma comissão de alunos na sua casa, na rua Junqueira Ayres. Ele disse: amanhã eu vou lá. Se preparem". Ele foi e fez a palestra sobre cultura e folclore, com o refeitório lotado. Foi uma zorra, no bom sentido. Todo mundo ria com Cascudo. O que falou? Não sei. E dava pra saber depois daquela risadagem toda? A partir daí, passei a "piruar" algumas aulas de Cascudo na Faculdade de Direito, na Ribeira, onde também ouvi as risadas dos alunos (naquela faculdade, eu tinha uma amiga, Regina Coeli, com quem conversava muito sobre literatura).

Meus pais eram admiradores incondicionais de Luís da Câmara Cascudo. Meu pai, Manoel Genésio, militou com Cascudo, na Ação Integralista Brasileira, no RN, entre os anos 1933/1937, movimento criado pelo escritor Plínio Salgado, um dos expoentes da Semana de Arte Moderna de 1922. Minha mãe, por exemplo, colecionava os recortes da Acta Diurna, de Cascudinho publicados nos jornais A República e Diário de Natal, ao longo das décadas de 40 e 50. Cascudo, Manoel Rodrigues de Melo, Manuel Genésio, dona Nati, morreram integralistas. Quando dona Nati publicou o seu livro "Diálogo das Estrelas", lançado na Livraria Universitária, na presença de Manoel Rodrigues de Melo, Ewerton D. Cortês, Antonio Othon Filho- Dr. Niton, Jaime Wanderley, Luiz Rabelo, Antidio Azevedo, Felipe Nery de Andrade, entre outros, Cascudo escreveu uma carta elogiosa para ela.


 

* Luiz Gonzaga Cortez é jornalista.

Um poema da neta Cynthia L.M.Cortez

Esperança

Esperanto

Esperar

Com esmero

O atropelo

Derruba quem está esperando

Tudo quisera

Estivera naquele suspiro no ar

Se, se carregar

Todo vento

Você caminha

Tudo minha

Nada não está

Eu espero

Tu esperas

Ele esperará?

Nós esperamos

Vós esperais

E eles esperarão?

Você uma vez soube...

Quem sabe esperar?

Algo se ouve

Ao esperar...

Algo não coube

Na mala do acontecimento

O que aconteceu, acontecerá?

Por que foi, por onde andará?

Qual o tudo que faz rir?

O tudo deste aqui

Do agora ,aonde está?


 

02-01-99

O sítio Liberdade

No sítio Liberdade

Os passeios da infância


 

Texto Luiz Gonzaga Cortez


 

Na década de 1950, o meu pai Manuel Genésio Cortez Gomes, comerciante, comprou um sítio no município de Macaíba, proximidades de uma área chamada "Góis", distante a uns 8 quilômetros do centro da vizinha cidade. Não sei exatamente a distância, porque há quase 40 anos que deixei de ir no sitio "Liberdade" ( o mesmo nome da fazenda que o meu avô paterno, José Gomes de Melo, tio de Tomaz Salustino Gomes de Melo, possuiu em Currais Novos). Eu era menino e acompanhava a família nas semanais visitas ao sítio. Viajávamos num caminhão GMC, dirigido por Manuel Taveira e o sr. Luiz Gonzaga (ambos falecidos), os dois motoristas mais conhecidos que papai tinha contratado para trabalhar na firma dele, em Natal.

A viagem era divertida quando contava com a participação das vizinhas e amigas das minhas irmãs, que viajavam sentadas em bancos colocados na carroceria do caminhão. Lembro-me que passávamos pelas Quintas e seguíamos pela Estrada Velha, a atual Br 226, hoje asfaltada, cujo pavimento era feito com paralelepípedos, passando pela temível e má afamada Curva da Morte, Mangabeira ( onde se vendiam frutas variadas na beira da estrada, inclusive mangabas) e entrávamos em Macaíba, após passarmos por uma ladeira de barro que dava muito trabalho ao motorista em época de chuvas. A estrada para Macaíba era muito bonita por causa do verde das árvores frutíferas.

Quando o caminhão passava pelos Guarapes, havia muitos barcos e botes ancorados. Mais na frente, as ruínas do casarão que diziam ser mal-assombrado e morada de lobisomem. Meu pai, muitas vezes, nos dava explicações sobre aqueles locais, mas elas se perderam nos socavões dos tempos.

Bom, quando a gente passava por Macaíba, nos sábados, quando se realizavam a feira livre no centro da cidade, na mesma rua onde hoje ela se instala, o caminhão parava num posto de gasolina que existia ( e ainda existe!) no lado direito, após a ponte, ao lado de um prédio que chamam de "rodoviária". Ali, víamos um bocado de homens idosos conversando num boteco (ou numa casa) vizinho. Eram os maiorais da cidade, os políticos, os comerciantes, etc. Às vezes, papai batia uma prosa com eles. Quando o caminhão atravessava a cidade, a muito custo, contornando a feira por uma rua à esquerda, onde hoje tem um colégio, passávamos ao lado da Matriz e seguíamos em frente pela rua do cemitério e pegávamos a Estrada do Fio, de areia, no meio, um sulco alto. O caminhão desembestava pela estrada afora, passava ao lado da Lagoa de Tapará, onde tiravam tabatinga para a construção civil, dava uma paradinha numa casa da família Birrada, Zé Birrada, Henrique Birrada, uns pretinhos baixinhos, risonhos e simpáticos, com os quais papai fez amizade. Gente boa os Birrada. A estrada do fio está afastada mais de 50 metros da antiga casa dos Birrada, a 5 quilômetros de Macaíba. Mais uns 4 quilômetros, chegávamos no sítio ( que hoje chama-se Granja Azul e o atual dono é médico Ivo Barreto, senhor de muitas terras na região) onde o meu pai construiu duas casas grandes e um depósito para carvão vegetal que ele vendia em Natal. O sítio possuía milhares de pés de côcos e muitas fruteiras. O grande problema era água. Cavou-se um poço com mais de 50 metros. No dia 14 de maio de 2001, estive perto do antigo sítio, mas não fui revê-lo, parei na casa de Henrique Birrada, graças à professora Sônia. Foi uma grande alegria rever Henrique, 77 anos, forte e ainda trabalhando no eito. No dia 23 de julho de 2006, retornei ao local. Creio que a denominação do sítio foi uma homenagem do meu pai ao professor Ulisses Celestino de Góis.

A LAGOA

A Lagoa de Tapará ainda tem água. A tabatinga está debaixo d'água. A antiga área de dunas, ao lado da lagoa, que existia na década de 1960, foi coberta pela vegetação verdejante, subdividida e com postes de média tensão e de iluminação. Hoje essas terras pertencem ao major Irineu. Há um casarão bonito lá no alto, ao norte da lagoa; nos meus tempos de menino ali tinha muitas árvores frondosas. Criação de cavalos. Pequenas plantações de mandioca no terreno de paús, na margem esquerda da estrada do fio. Naqueles tempos a área era esburacada e irregular e a lagoa com menos água. A argila utilizada pelos pedreiros nos anos sessenta do século passado, permaneceu sob a terra, onde foi produzida pela natureza. A engenharia encontrou outros materiais para construções de edifícios e casas.


 

Paulo Coelho e Nati Cortez

O escritor Paulo Coelho,

Natal e os discos voadores


 

Luiz Gonzaga Cortez*


 


 


 

O colunista Paulo Coelho, da agência Globo e autor de vários livros considerados místicos

e esotéricos, quase todos recordistas de vendas no Brasil, apesar da qualidade literária ser questionada pelos intelectuais puristas e conservadores de vários matizes, tem alguma ligação com Natal, "cidade espacial"? Mesmo sem possuir nenhuma base espacial no seu território – Barreira do Inferno fica no vizinho município de Parnamirim - , Natal já teve diversos grupos de estudos sobre objetos voadores não identificados, OVNI. Eu mesmo conheci um grupo que se reunia na rua Felipe Camarão, Centro, com dezenas de componentes de ambos os sexos. Um daqueles estudiosos é autor de livros considerados esotéricos, também com altos índices de vendas, e se identifica com um pseudônimo ( parece que é Jean Van Ellan ou coisa parecida). Na década de oitenta, o grupo foi presidido por minha mãe, Maria Natividade Cortez Gomes, que adotava o "nome artístico" de Nati Cortez. Ela e dezenas de jovens acreditavam em discos voadores. Eu sempre fui cético sobre a existência de extra-terrestres e outras coisas.

Nos anos setenta e oitenta, Paulo Coelho Netto, ainda não tinha fama e, provavelmente, ele não pensava em escrever O Alquimista, mas já era conhecido nos meios esotéricos brasileiros como escritor. Paulo Coelho também acreditava em discos-voadores. Será que ainda acredita? Naquela época, ele disse: "Os discos voadores não visitam o globo terrestre apenas como recreação turística; essa ronda constante e enigmática, parece obedecer a um plano geral e metódico de pesquisas de nossos recursos naturais, indústrias básicas, reservatórios de água, centrais elétricas, usinas atômicas, centros de lançamentos de foguetes, bases aéreas e navais, quartéis e arsenais. ... Eles devem ser originários de verdadeiras civilizações, que estão a dezenas de milhares ou, mesmo de milhões de anos a nossa frente, na ciência e na tecnologia. Nada têm a aprender conosco e não seriam tão bobos que nos procurassem para nos ensinar os seus segredos que mais tarde, poderiam ser usados contra eles". Dona Nati citou essa declaração de Paulo Coelho durante o lançamento do seu livro "O mistérios dos discos voadores, na tarde de 3 de julho de 1976, na livraria de propriedade de Dilma, a Potiguar, onde a professora Auta Vieira fez a saudação na solendiade que contou com a presença de escritores convidados.

Através do João Evangelista Ferraz, que era "lugar tenente do Grão Priorado Nacional', de uma Ordem Soberana e militar dos Cavaleiros do Templo de Jerusalém, que funcionava na velha Guanabara, Nati Cortez obteve o endereço de Paulo Coelho e chegou a se corresponder com ele. Ela mandava os seus livros (peças de teatro infantil que Jesiel Figueiredo se recusou a montar) e Paulo Coelho mandava suas simpáticas opiniões. No meio de uma vasta correspondência, encontrei uma cartinha de Paulo Coelho, com o seguinte teor: "Ilustre escritora Nati Cortez. Gostei muito do recente livro da consagrada escritora – "O Mistério dos Discos Voadores". Leitura amena, instrutiva, de quem já domina o assunto com os conhecimentos e a clareza que prendem a atenção do leitor. Do ano passado até hoje saíram, em português, traduzidos ou de autores nacionais, oito livros sobre os discos voadores. Isso é uma prova incontestável do interesse, sempre crescente, do público que acompanha o trabalho dos estudiosos. Com os meus parabéns, envio também atenciosos cumprimentos. Paulo Coelho Netto. Rio, 31-7-1976". Naquele ano, o escritor Paulo Coelho morava na rua Coelho Netto, 47, Laranjeiras, Rio de Janeiro.


 


 

*Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e

o 14'filho de Nati Cortez.

Aviação francesa em Natal

Exupéry em Natal? Eu não duvido.


 

Luiz Gonzaga Cortez*


 

Eu não duvido das fontes orais e escritas sobre a presença do piloto Antoine Sain-Exupéry em Natal, no final da década de 20 do século passado, no inicio da fase épica das viagens transatlânticas da aviação européia. Por que não? Delírio? Várias pessoas e testemunhas deixaram depoimentos na imprensa natalense, nos últimos 30 anos (Diario de Natal, Dois Pontos, Tribuna do Norte e o programa Memória Viva da TV-Universitária-Canal 5), asseverando que o piloto francês esteve na taba potengina. Há textos publicados em livros,e jornais e revistas, além dos relacionados no Google e outros sítios de buscas. Há referências que não são consideradas pelos adversários da tese de que Exupéry esteve em Natal.

Há fontes que não são comentadas pelos jornalistas e pesquisadores que tacham de invencionices de intelectuais potiguares. Quais? Vamos exemplificar. O jornalista Talis Andrade, no blog coração noturno, publicou em 20/04/2008, um pequeno texto intitulado "Saint-Exupéry em Natal", que nos traz uma pista sobre Exupéry em Natal. O autor esteve em Natal em fevereiro passado e bebeu vinho com Ticiano Duarte e Woden Madruga. Talis faz referências elogiosas a WM sobre a polêmica vinda de Exupéry, etc, etc. Do meio para o fim do seu artigo, Talis Andrade, que escreveu reportagens sobre aviação na década de 50, diz o seguiunte: " Em 1927, começa a exploração da linha comercial Buenos Aires-Natal. Em 1928, Saint Exupéry escreve Correio Sul e, começos de 1929, entrega os manuscritos à editora Gaston Gallimard.

Quatro meses depois viajou para a América do Sul, para estudar a possibilidade de criar novas linhas aéreas. Tertminou em Buenos Aires, e para chegar lá fez escala em Natal. Não havia outra rota. No Correio Sul, p.10, escreve:

<<<-Apressemo-nos, senhores, apressemo-nos...

Mala por mala, o correio mergulha no ventre do aparelho. Verificação rápida: - Buenos Aires...Natal... Dacar... Casablanca... Dacar... Trinta e nove malas... Exatos?

- Exato.>>>

Em 1929, começou a escrever Vol de Nuit.

A briga pelos Correios vem de longe. E Lula quer privatizar os Correios sem os Telégrafos.

Talis Andrade." Extraído às 17h;15m do dia 24/06/2008 do sítio http://coracaonoturno.blog-sae.com.br.

No seu bonito romance "Maranduva", o escritor potiguar Pedro Lins Neto, dentista aposentado, após exaustivas pesquisas sobre a história do Rio Grande do Norte, relata na página 49 que o debate sobre o "acontecimento inequívoco" tinha cessado "e eis que a insuspeitíssima Revista Terra, na edição de nº 136, de agosto de 2003, dá agora enfoque ao esquecido assunto, na pag.29 publicando História de Aviadores e Árvores, com recorte de jornal da época, onde se vê a manchete Saint-Exupéry em Natal, contendo a sua foto". Ao me deparar com um exemplar do livro, fui encontrar o seu autor no dia 28 de outubro de 2007, em sua residência, em Candelária. Pedro Lins não encontrou a edição da Revista Terra, mas informou que fotocopiou a reportagem com a foto inédita de Exupéry em Natal, e entregou ao professor Cláudio Galvão para análise. Talvez seja uma nova fonte para alicerçar a versão de que o piloto francês Antoine de Saint-Exupéry teria passado por Natal e alimentar e requentar a polêmica? Acredito que não devemos desprezá-la, pois o assunto não vai morrer tão cedo, tendo em vista que há pessoas que não vão se calar nem parar de pesquisar e escrever a respeito do piloto-administrador da Latécoère Antoine de Saint-Exupéry que ficou mundialmente famoso após o fim da II Guerra Mundial, após a publicação do livro "O Pequeno Príncipe".


 

*Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Dois Poemas de Nati Cortez

Conforme o original, transcrevemos o poema sem nome, escrito na praia da Redinha, em 12 de dezembro de 1940.

Na hora da inspiração

Quando a tarde agoniza

E a noite descendo vem,

A lua prateia o mar

Que cansado de chorar

Num incessante vai e vem,

Se espreguiça na areia

Banhada de lua cheia.

Como é belo este luar!...

Nós dois , então, contemplamos

O luar no mar

E ficamos a pensar

No seu eterno marulhar

Até o mundo findar

Então não haverá mais o mar

Porque o pecado foi-se

E com ele liquidou-se

A discórdia entre os povos

E a paz de Deus reinará

Sobre toda a humanidade

Na mansão da eternidade.

Redinha, 12.12.40. Nati.

Já em 1987, ela escreveu na sua casa da rua Felipe Camarão, 453, Cidade Alta, o poema "A paisagem", dedicado a sua amiga Teresinha Cortez Siqueira, que ainda mora na rua do Rosário, próxima da Igreja do Rosário, ao lado do Tribunal Eleitoral.

"A amiga tomou-me pela mão:

"Nati, venha ver a paisagem!"

Seguia-a. Não podia tombar.

Minhas pernas estavam trôpegas,

Da longa enfermidade.

Insensível eu não podia ficar,

Diante de tal felicidade.

Fiquei parada, quieta, estática,

Contemplando a paisagem.

Uma paisagem marítima,

De barcos ancorados.

Um céu azul, um verde mar.

Um cais de conchas e sargaços

Os pontilhões da Petrobrás.

Além, as ondas quebravam,

Brancas, de espumas rendadas.

No sopé dos morros da Redinha

As "chatas" paradas no rio,

Pareciam almas penadas.

Era um encanto ver o casario,

Diante do Potengi amado.

Meu olhar não tinha escamas,

Estava claro diante da beleza,

Daquela paisagem deslumbrante.

Não me cansava de admirar,

As maravilhas da natureza,

Que Deus aos homens concede.

Mesmo sem eles merecerem.

Nati Cortez. Natal,03 de fevereiro de 1987. Nota: Os pontilhões que a autora se refere eram as plataformas da Petrobrás que permaneciam dias no estuário do rio Potengi, antes de se deslocarem para os campos de petróleo do litoral norte potiguar e/ou para outras regiões do Brasil.

Gena Maceira Montenegro – Uma grande amiga de Nati Cortez.

A mineira Maria Eugênia, já falecida, e que residiu durante décadas na cidade de Assú/RN, foi uma grande e sincera amiga de mamãe. Há muitas cartas de Gena para mamãe, poemas também, elaborados em verdadeiros cartões confecionados por ela. Encontrei um desses cartões com os seguintes versos: "Querida Nati.

Se à Helena ofereço rosas

a você, ofertos lírios

flores puras e formosas

dos altares e dos círios

----

Quero lírios no seu véu

Para sua missa rezar

Tal Via Lactéa do céu

Branca luz no seu altar.

Da Gena.

Natal, dezembro/1971.