sábado, 26 de dezembro de 2009

O sítio Liberdade

No sítio Liberdade

Os passeios da infância


 

Texto Luiz Gonzaga Cortez


 

Na década de 1950, o meu pai Manuel Genésio Cortez Gomes, comerciante, comprou um sítio no município de Macaíba, proximidades de uma área chamada "Góis", distante a uns 8 quilômetros do centro da vizinha cidade. Não sei exatamente a distância, porque há quase 40 anos que deixei de ir no sitio "Liberdade" ( o mesmo nome da fazenda que o meu avô paterno, José Gomes de Melo, tio de Tomaz Salustino Gomes de Melo, possuiu em Currais Novos). Eu era menino e acompanhava a família nas semanais visitas ao sítio. Viajávamos num caminhão GMC, dirigido por Manuel Taveira e o sr. Luiz Gonzaga (ambos falecidos), os dois motoristas mais conhecidos que papai tinha contratado para trabalhar na firma dele, em Natal.

A viagem era divertida quando contava com a participação das vizinhas e amigas das minhas irmãs, que viajavam sentadas em bancos colocados na carroceria do caminhão. Lembro-me que passávamos pelas Quintas e seguíamos pela Estrada Velha, a atual Br 226, hoje asfaltada, cujo pavimento era feito com paralelepípedos, passando pela temível e má afamada Curva da Morte, Mangabeira ( onde se vendiam frutas variadas na beira da estrada, inclusive mangabas) e entrávamos em Macaíba, após passarmos por uma ladeira de barro que dava muito trabalho ao motorista em época de chuvas. A estrada para Macaíba era muito bonita por causa do verde das árvores frutíferas.

Quando o caminhão passava pelos Guarapes, havia muitos barcos e botes ancorados. Mais na frente, as ruínas do casarão que diziam ser mal-assombrado e morada de lobisomem. Meu pai, muitas vezes, nos dava explicações sobre aqueles locais, mas elas se perderam nos socavões dos tempos.

Bom, quando a gente passava por Macaíba, nos sábados, quando se realizavam a feira livre no centro da cidade, na mesma rua onde hoje ela se instala, o caminhão parava num posto de gasolina que existia ( e ainda existe!) no lado direito, após a ponte, ao lado de um prédio que chamam de "rodoviária". Ali, víamos um bocado de homens idosos conversando num boteco (ou numa casa) vizinho. Eram os maiorais da cidade, os políticos, os comerciantes, etc. Às vezes, papai batia uma prosa com eles. Quando o caminhão atravessava a cidade, a muito custo, contornando a feira por uma rua à esquerda, onde hoje tem um colégio, passávamos ao lado da Matriz e seguíamos em frente pela rua do cemitério e pegávamos a Estrada do Fio, de areia, no meio, um sulco alto. O caminhão desembestava pela estrada afora, passava ao lado da Lagoa de Tapará, onde tiravam tabatinga para a construção civil, dava uma paradinha numa casa da família Birrada, Zé Birrada, Henrique Birrada, uns pretinhos baixinhos, risonhos e simpáticos, com os quais papai fez amizade. Gente boa os Birrada. A estrada do fio está afastada mais de 50 metros da antiga casa dos Birrada, a 5 quilômetros de Macaíba. Mais uns 4 quilômetros, chegávamos no sítio ( que hoje chama-se Granja Azul e o atual dono é médico Ivo Barreto, senhor de muitas terras na região) onde o meu pai construiu duas casas grandes e um depósito para carvão vegetal que ele vendia em Natal. O sítio possuía milhares de pés de côcos e muitas fruteiras. O grande problema era água. Cavou-se um poço com mais de 50 metros. No dia 14 de maio de 2001, estive perto do antigo sítio, mas não fui revê-lo, parei na casa de Henrique Birrada, graças à professora Sônia. Foi uma grande alegria rever Henrique, 77 anos, forte e ainda trabalhando no eito. No dia 23 de julho de 2006, retornei ao local. Creio que a denominação do sítio foi uma homenagem do meu pai ao professor Ulisses Celestino de Góis.

A LAGOA

A Lagoa de Tapará ainda tem água. A tabatinga está debaixo d'água. A antiga área de dunas, ao lado da lagoa, que existia na década de 1960, foi coberta pela vegetação verdejante, subdividida e com postes de média tensão e de iluminação. Hoje essas terras pertencem ao major Irineu. Há um casarão bonito lá no alto, ao norte da lagoa; nos meus tempos de menino ali tinha muitas árvores frondosas. Criação de cavalos. Pequenas plantações de mandioca no terreno de paús, na margem esquerda da estrada do fio. Naqueles tempos a área era esburacada e irregular e a lagoa com menos água. A argila utilizada pelos pedreiros nos anos sessenta do século passado, permaneceu sob a terra, onde foi produzida pela natureza. A engenharia encontrou outros materiais para construções de edifícios e casas.


 

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