terça-feira, 13 de julho de 2010

Parelhense brilha na literatura goiana .

Jorge de Senna, um escritor

Potiguar desconhecido. (2)


 

Luiz Gonzaga Cortez. *


 

Não é somente Jorge Rodrigues de Senna que é esquecido pelos autores de antologias de escritores e contistas norte-rio-grandenses. Existem inúmeros poetas omitidos das listas literárias, como são os casos de Estefânia de Azevedo Mangabeira de Barros, do século passado, nascida em Macaíba, Geraldo do Norte (WWW.opoetamatuto.com.br) e Tertuliano Pinheiro, estes de Parelhas/RN.

O parelhense que brilha, depois que publicou "Depois do Expediente", em 1994, lançou o seu segundo livros de contos e memórias, "Frutos da Insônia" (104 páginas), considerado pelos críticos goianos como uma obra com viés sociológico, "de olhos vivos no real, servindo ao ficcionista que desta feita, caminha pelo terreno da crônica confidente". Jorge de Senna, mais uma vez, é elogiado por Brasigóis Felício, no prefácio de "Frutos da Insônia", onde ele escreve: "Não hesito em dizer que os leitores não gastarão em vão o tempo que dedicarem à leitura desses FRUTOS DA INSÔNIA. São frutos da terra, colhidos pela sabedoria humana, espírito de observação, e no senso de humor deste potiguar que escolheu Goiás para viver, trabalhar, e criar sua família. Radicado no rico torrão goiano (e atualmente devastado pela "sojeira pura" da monocultura agrotóxica intensiva), Jorge de Senna não perde o contato com suas raízes". Brasigóis considera que Jorge de Senna cavouca as solidões do passado, mergulhando, com seu talento de cronista e historiador nos acontecimentos mais marcantes da política potiguar, com "certeiras lancetadas no carnegão da política da província, com seus coronelismos, e outros ismos impronunciáveis, em face de uma falsa modernidade".

Realmente, segundo informações colhidas, Jorge de Senna não perde suas ligações com o Rio Grande do Norte, visitando Parelhas, onde nasceu no povoado Juazeiro, em 27 de abril de 1922, e Natal. Aqui, ele não perde uma oportunidade de "baixar" no antigo "Grande Ponto", na rua Princesa Isabel, para matar as saudades, pois, ali pertinho, morou na casa de nº 227 da rua General Osório, onde existiu uma "república" de estudantes nos anos quarenta. No pensionato, conviveu com Alonso Bezerra de Albuquerque e José Orontes Pires Galvão (falecidos), além de Lauro Pires Galvão, Neto Queiroz, Noé Assunção, Bianor Trigueiro Costa, dr. Chiquinho Vasconcelos Galvão, Fernando Umbelino, de Santa Cruz, irmão de Pindoba e João Umbelino.

"Ainda não havia a Rádio Difusora de Natal. Ou seria a Rádio Educativa? Confesso a minha dúvida. O serviço de auto-falantes de Luiz Romão estava no auge. Foi nessa época que o cantor Silvio Caldas fez uma "Noite de Seresta" naquela casa de espetáculos. Quem duvidar, procure os anúncios em "A República" dos primeiros meses de 1940 e verá que a cachola deste macróbio ainda funciona. Lembro-me de que antes de Sílvio entrar no palco, um locutor de fora, chamado Bulhões, fez longa leitura, apresentando "o artista de voz cristalina como água que jorra de uma ânfora", para deleite da imensa platéia que lotava aquela então requintada casa, freqüentada pela nata social da época. O leitor já deve estar perguntando:

---E por que o velhote não diz o que o teria levado a achar que já era homem, naquele tempo? Não se aperreie ,não,meu bichim, eu lhe digo: foi naquela noite gloriosa que eu me sentei, pela primeira vez, com uma namorada, para assistir a uma diversão, como faziam os outros rapazes mais velhos e melhormente situados na vida. Além de ter sido a primeira vez que abracei uma namorada, outro acontecimento, ruim a danar, ficou-me gravado na memória: dirigi-me ao Rex, naquela noite, ignorando o preço de casa entrada. Lá chegando, na bilheteria, fui informado de que custava a bagatela de cinco mil reis, cada uma. Comprei as duas por dez, é claro, todo o meu capital e assisti Silvio Caldas, com o braço sobre os ombros dela e uma dor, não sei onde, causada pela certeza de que voltaria a pés, para a Ribeira, vez que não sobrara um único tostão. Terminada a apresentação, aleguei dor de cabeça, enxaqueca, despedi-me às pressas, no ponto do bonde e parti rumo à Praça Augusto Severo para onde tínhamos mudado, meses antes. Enxuguei o suor e dormi feliz. Ali, ocupava, com Lalu Galvão, um quartos dos fundos, no terceiro andar, quarto este situado ao lado de outro, um pouco mais confortável, onde residia o já então maduro solteirão Luiz Maria Alves".

Liso, Jorge de Sena, na semana de carnaval de 1941, viajou para Recife, onde embarcou no navio "Itaquatiá" para o Rio de Janeiro, iniciando a sua saga em busca de trabalho e melhores dias. E diga aí, caro leitor, com quem Senna viajou para Recife? Luiz Maria Alves, por derradeiro.

"Frutos da Insônia" tem muitas crônicas com os "causos" vividos pelo escritor parelhense, a vida social e política de Natal, Parelhas e Goiânia-GO. O livro foi editado pela Editora AB, rua 15, nº 252, Qd. 34, Lt. 34, Setor Central, Goiânia-GO . Tel. (062) 225.2010 e fax 229.4109.

Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador.

domingo, 4 de julho de 2010

Parelhense brilha na cultura goiana


 


 

Jorge de Senna: um

Escritor esquecido no RN (1)

Luiz Gonzaga Cortez.


 

Foi através de Zequinha Marcolino, bancário aposentado, companheiro de caminhadas, que tomei conhecimento de Jorge Rodrigues de Senna, potiguar de Parelhas, um dos nossos escritores que não estão enfocados nas antologias da literatura do Rio Grande do Norte. Pois é, o octogenário Jorge R. de Senna, um misto de contador aposentado, escritor e jornalista, autor de cinco livros de contos, crônicas e artigos, é integrante da Academia de Letras Goiás, Estado onde reside há mais de 50 anos, mas sempre vem à sua terra natal para participar dos festejos religiosos do Padroeiro da cidade de Parelhas, São Sebastião.

Jorge de Senna foi descoberto e incentivado por um dos grandes escritores goianos, Brasigóis Felício, autor do prefácio do seu primeiro livro, "Depois do Expediente" (1994), através do qual, em 2009, me embeveci com os seus contos e relatos da vida cotidiana de Goiás e da política coronelista potiguar nos anos 40/50 do século passado, além dos "causos", dos fatos tragicômicos e dramáticos. Há relatos verídicos que servirão de subsídios aos pesquisadores acadêmicos da área de ciências sociais, apesar dos seus personagens terem suas identidades referidas por pseudônimos,como os envolvidos nas tramas e crimes da baixa política potiguar da antiga UDN e PSD.

Na sua primeira incursão literária, Jorge de Senna homenageia seus pais, esposa, Marlaine, e filhos, através de textos que asseguram "ser um arguto observador da alma humana, no que tem, o bípede pensante, de ridículo e imponente, divino e demoníaco". E prossegue Brasigóis: "Li este livro de um fôlego só, reforçando minha convicção: a que, para se fazer literatura, há que se ter, como matéria prima primordial, boa linguagem, capacidade narrativa, (em que se equilibram, artisticamente, a opulência e a síntese)—além, é claro, do senso de humor, quando se tratar de cenas pícaras, ou anedóticas, e visão do trágico, quando o drama ensombrecer de medo e de angústia, as ações humanas. E isso este Autor potiguar tem, senão se sobra, mas, ao menos, o suficiente para prender o leitor. Que mais se pode exigir, de alguém que se dedique ao ofício de escrever? Não há, nas estórias de Jorge de Senna, as filigranas e os laboratórios herméticos, em que nadam, de braçada, certas barulhentas e estéreis vanguardas. Seus recursos narrativos são os tradicionais, sendo suas estórias estruturadas pelo velho e bom começo, meio e fim, sem que seja, por isso, previsíveis e insossas. Bem ao contrário, seus contos têm tônus, tensão dramática e riqueza conteudística, como é exemplo a peça "O Boca de Praga", onde se lê a pérfida ou inocente ironia que viceja nas repartições públicas transformou um Malaquias Souza Vale em Malaquias Sem Valor, só pelo fato do alcunhado, para economizar tempo ou tinta, grafar seu nome como "Malaquias S/V"....". Há figuras denominadas Zidorão, Cabo Jacinto, Brejuí, Zé Mocó, Zitinha, Ana Medalha,Carival, Orontes, Pedro Bonzo, Abílio Pé de Cana, Aninha Sem Tripa, Cicero Suruba, Talarico Bezerra, Leite Filho, etc., mas vou parar por aqui porque isso é outra história.

Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador.