domingo, 30 de maio de 2010

Nati Cortez e Lilia Galvão

Esta foi tirada por João Maria Cortez Gomes de Melo numa praia de Natal, em 1957. À esquerda, a poetisa Nati Cortez (Maria Natividade Cortez Gomes) e dona Lilia Galvão, que foi residir no Rio de Janeiro poucos meses depois. Ambas conheceram a poetisa e atriz de teatro Didi Câmara, que residia na Tijuca, onde constituiu família com o ator Fernando Cardoso. Do arquivo de João Maria Cortez.
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Cometa, um poema de Didi Câmara


 

Luiz Gonzaga Cortez *


 


 

Pegando carona nas crônicas publicadas na imprensa natalense, andei procurando nos meus papéis velhos, alguma coisa sobre a poetisa Didi Câmara. Encontrei pouco, mas continuo procurando as cartas que ela teria enviado para a minha mãe, Maria Natividade Cortez Gomes, sua amiga de infância, em Natal. Irmãos mais velhos me informaram que elas se corresponderam muito há 30/40 anos atrás. Didi Camara no Rio de Janeiro e Nati Cortez, como era mais conhecida, na Rua Felipe Camarão, Cidade Alta, em Natal. Quando menino, eu ouvia falar sobre duas amigas de minha mãe: Lilia Galvão e Didi Câmara. Dona Lilia eu conheci, morou em frente à nossa casa. Eu não me lembro de dona Didi Câmara, mas há quem afirme que ela visitou mamãe, aqui, na província potengina. Já achei várias cartas remetidas para ela (Nati), mas não achei as de Didi Câmara. Entretanto, encontrei uma edição incompleta da revista JURITI, editada por Aluizio Macedônio Lemos, chefe integralista de Ceará-Mirim/RN, com um poema de Didi Câmara. A revista não tem páginas numeradas nem a data da edição, mas, presumo, que seja de novembro ou dezembro de 1938, pois traz uma notícia sobre as comemorações do 1º aniversário do golpe de estado que implantou a ditadura do Estado Novo em 10 de novembro de 1937.

Chama-se "COMETA" o poema de Didi Câmara, oferecido ao Padre Luiz Gonzaga do Monte. Transcrevo, conforme o original publicado, o poema escrito décadas antes do nascimento do compositor e cantor Raul Seixas e do movimento dos ufologistas.     

"Nasci numa longínqua nebulosa,

Há milhares de séculos passados,

Em pleno céo aberto e infinito.

Sou filho vagabundo dos espaços

E irmão das estrelas.

Percorro lesto distancias inauditas,

Dentro do caos profundo deixo rastros

De luz e uranolitos.

Se o que vi podesse, eu vos diria,

Dentro de minha vida luminosa,

Desde que vim da erma nebulosa,

Que já nem sei onde está...

E que foi o meu berço colossal,

Feito de ouro, verde e cor de rosa:

Em volteios gracis, qual fulgurante

Aza ciclópica de gigantesca ave.

Pelos espaços vi alviçareiros mundos,

Que giram sobre, e pelos céos profundos,

Da estrada eterna a interminável senda:

Globos acesos e volteando aos pares

Quais falenas de prata, aos milhares,

Numa dansa fantástica de luz

Toquei o solo rubro de estrelas,

Onde colhi encantos de mil cores,

A corôar minha cabeça e onde puz

Mais formosos matises, como flores.

Vi delírios de fogo, altas chamas,

Tempestades astrais, igneas tragedias,

Onde desapareceram de repente,

Os mais lindos sois.

Contemplei as batalhas siderais,

Onde cada soldado é uma estrela,

Que disputa um sistema em formação...

E seguirei sempre aventureiro de luz,

Pelos espaços infindos, eternamente abertos

Pelos céos de safira sempre azuis...

Até que um dia nessa marchar exul,

Possa tomar-me um sol no seu bojo de chama

E sepultar-me a fluida cabeleira,

Numa formosa e rubra sepultura,

Que ao choque de meu corpo ainda mais se inflar

Em torrentes de fogo pela altura!".

Nota: As expressões " lesto", "exul" e "gracil" não são erros de revisão. Estão registradas no "Aurélio" há décadas, informa Nei Leandro de Castro. Eu desconhecia, mas lesto significa rápido, ligeiro, ágil grácil é o mesmo que delicado, delgado, fino, sutil. Exul, o mesmo que exule, é exilado, desterrado. Creio que o final do bonito poema seja "Em torrentes de fogo pelas alturas!". Franklin Jorge escreveu que esteve no Rio de Janeiro, em 1970, num dia de jogo da seleção brasileira e encontrou Didi Câmara com várias amigas e que não deu importância ao visitante, mas lembra-se de que falou sobre Natal e Nati Cortez, tendo dona Didi comentado que isso é coisa muita antiga, que já passou, etc. Tudo bem, está certo Franklin quando diz que ela não o recebeu bem. Já a minha irmã, Cecília, que reside no Rio de Janeiro desde 1974, disse-me que naquele ano, visitou Didi Câmara com mamãe e que ela recebeu muito bem, tomou chá com a gente, que riu muito quando conversaram sobre Natal da infância delas. "Me pareceu uma mulher muito simpática, risonha e era amiga de mamãe. Só a vi uma vez, apesar de morar bem pertinho, na Tijuca. Na ocasião , ela estava com uma filha e uma neta,que devem morar aqui ainda, mas não me lembro do endereço dela", disse a engenheira Cecília Cortez Gomes.

Luiz Gonzaga Cortez Gomes, jornalista e pesquisador.

Texto redigido em 17.04.2010.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sérgio Resende em Natal

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Ministro reconhece trabalho da física

No rápido e improvisado discurso proferido na manhã de hoje, 24, na entrada do Departamento de Física Teórica e Experimental da UFRN, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Resende, elogiou o dinamismo da atual gestão da Universidade Federal e parabenizou o trabalho do professor e doutor em física, Liacir dos Santos Lucena, coordenador das pesquisas do petróleo naquela instituição, em convênio com a Petrobrás. O reitor da UFRN, Ivonildo Rego, também elogiou o professor Liacir como um pesquisador que está sempre começando um novo projeto de pesquisa, um homem "que está sempre começando".
O físico Sérgio Resende, que sempre ajudou os físicos da UFRN, disse, ainda, que a persistência e dinamismo da UFRN e, por isso, os resultados vão aparecendo. Ele lembrou a crise mundial do petróleo na década de 70 do século passado, que prejudicou o crescimento do Brasil, por causa do endividamento junto aos bancos externos para a enfrentar a escassez de combustíveis. Com a colaboração de pesquisadores e cientistas brasileiros, em universidades públicas do Rio de Janeiro, inicialmente, foi criado o Proálcool (Etanol) para substituit a gasolina. Hoje, o Brasil produz e consome 50% de etanol nacional e é o líder mundial em biocombustíveis. Graças as pesquisas desenvolvimentos por brasileiros nos centros de pesquisas da UFRJ, PUC do Rio de Janeiro, a pedido da Petrobrás, o país criou tecnologias avançadas para a pesquisa e prospecção de petróleo em águas profundas, tornando a Petrobrás a líder mundial no setor. "O desafio é muito grande. A rede de pesquisadores em todo o Brasil, em várias áreas, trará conhecimentos importantes para o Brasil utilizar os recursos do Pré-Sal nas águas profundas em benefício da humanidade", disse o ministro Sérgio Resende.

Ministro na UFRN

O ministro da Ciência e Tecnologia, Eliseu Resende, às 9 horas de ontem, inaugurou os novos lab0ratórios de pesquisas do Petróleo e o prédio do Instituto Internacional de Física, no Campus da UFRN, em Natal/RN , em solenidade que contou com a presença do Reitor Ivonildo Rego, professores, estudantes, cientistas nacional, dirigentes da Petrobrás e representantes do Governo do Estado e do CNPq. O professor Liacir Lucena, coordenador do processo que gerou vários estudos nos chamados sistemas complexos e da busca de novos métodos e técnicos de extração de petróleo no Brasil, disse que os novos laboratórios faz parte dos esforços dos físicos para buscar soluções para os gargalos que existem no desenvolvimento tecnológico brasileiro, principalmente agora com a descoberta da camada do Pré-Sal. "Os problemas são cada vez mais difíceis e desafiadores. De cada três barris de petróleo extraídos da camada terrestre, apenas um barril é aproveitado, se desperdiçando dois barris. Por isso, cabe aos físicos encontrar novos métodos e técnicas para dimiunuir esse desperdício. Os problemas são difíceis, são grandes, por isso que os físicos estão aqui, trabalhando, pesquisando, porque se fossem fáceis, eles não estariam aqui", disse Liacir Lucena, falando descontraidamente.
Liacir alinhou algumas linhas de pesquisas desenvolvidas nos laboratórios da UFRN que redundaram em prêmios para os físicos locais, tais como um novo método de decovulação, metódos de estatísticas, algoritmos baseados em escalas expectrais, teoria da percolação, um simulador e novas técnicas que tentam oferecer a Petrobrás e empresas da área petrolífera.
A professora Maria Célia de Andrade, do corpo docente do CEI-Mirassol, a primeira escola particular do Rio Grande do Norte a elaborar um projeto de iniciação científica para estudantes de nível médio, entregou ao Ministro Sérgio Resende, uma cópia do documento que visa a implantar uma mentalidade no seu alunado que possa, no futuro, colaborar para o desenvolvimento tecnológico do Brasil.
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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Professor Tiago Gomes


 


 


 

Um porteiro, paraibano de Picuí, fundou a CNEC

Em Recife e foi tachado de comunista.

Luiz Gonzaga Cortez.


 

O fundador, o Pai, o inventor da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade-CNEC, denominação atual, foi o paraibano de Picuí, Felipe Tiago Gomes e tudo começou na capital pernambucana, Recife, onde ele era o porteiro da Casa do Estudante de Pernambuco. Felipe Tiago Gomes se inspirou na experiência do peruano Haya de La Torre, após ler o livro "Drama da América Latina", de John Gunther. A Campanha do Ginasiano Pobre foi lançada no dia 30 de agosto de 1943, através de um boletim impresso pelo grupo de 5 estudantes pobres: Felipe Tiago Gomes, Carlos Luis de Andrade, Florisval Silvestre Neto, Joel Pontes e Eurico José Cadengue. Foram esses rapazes que participaram da primeira reunião realizada no Ginásio Pernambucano, hoje Colégio Estadual de Pernambuco. A idéia contou com a adesão de Genivaldo Wanderley e José Irineu, impulsionando o movimento em plena Segunda Guerra, o que teria possibilitado o surgimento da desconfiança das autoridades civis e militares diante dos boatos de que era "coisa de comunistas". Ajudar os pobres era coisa de comunista. O que queria Felipe Tiago Gomes era ajudar os ginasianos pobres, desamparados e desempregados quando terminavam o primeiro grau, servindo de massa de manobra dos politiqueiros e dos coronéis dos sertões nordestinos, além "de acender novas luzes nas inteligências de dezenas de rapazes pobres, que apenas têm o curso primário e não podem, por motivo financeiro, continuar seus estudos".

Os jovens causaram tremendo "rebu" em Recife durante os festejos da Semana da Pátria, quando lançaram um manifesto no dia 7 de setembro de 1943, conclamando os estudantes a se irmanarem na campanha "Um ginásio para o pobre!". O panfleto foi redigido por Alcides Rodrigues de Sena, colega de Felipe, e pedia ajuda da mocidade para formar fileira na campanha, do estudante rico para estirar "em auxílio do jovem anônimo e inteligente que também deseja, quer estudar".

A Campanha se expandiu e em 21 de março de 1944 o grupo, que ainda divulgava seus objetivos e já tinha dialogado com os oficiais do Exército e da Marinha e líderes católicos de Pernambuco, Ceará e Pará, mandou uma carta para o escritor Luís da Câmara Cascudo, convidando-o para proferir palestra em Recife durante a Semana de Cultura Nacional. Cascudo não aceitou o convite por causa dos compromissos assumidos.

Outro fato que chamou a atenção das autoridades de Pernambuco foi a campanha "De pé também se aprende", com mais de 100 alunos. O fato é que eles não conseguiram cadeiras e carteiras para os alunos e lançaram panfletos dirigidos aos usineiros, industriais, comerciantes e agricultores, a fim de obterem recursos para aquisição de carteiras e tamboretes para os ginasianos pobres. O general Isauro Regueira, Comandante da Sétima Região Militar, na entrada do Teatro Santa Isabel, ao receber um panfleto, parou para lê-lo e, em seguida, procurou o grupo de estudantes para conhecer a Campanha do Ginasiano Pobre, denominação primitiva da hoje CNEC, que já foi CNEG, Campanha Nacional de Educandários Gratuitos.

A "História da CNEC" ( Brasília, 1980) está contada por Felipe Tiago Gomes, responsável pela vinda da Campanha ao Rio Grande do Norte, em 1948, onde ele e sua comitiva foram recebidos pelo governador José Varela e secretários, colocando o jornal do Governo, A República (vide edição de 2 de outubro de 1948) à disposição do movimento. A primeira diretoria da CNEC não tem nenhum nome do RN, mas em 1949, quando Felipe Tiago Gomes já residia no Rio de Janeiro, nosso Estado já tinha um delegado da instituição, o sr Luís C. Soares. Em 1950, houve um congresso da CNEC que elegeu a seguinte diretoria: Presidente Felipe T. Gomes; Antunes de Oliveira, segundo vice-presidente; Péricles de Souza Dantas, segundo vice; Dulce Oliveira Vermelho, secretário-geral; Bráulio Cortês Xavier Bastos, primeiro secretário; Norma Fonseca Paixão, segundo secretário; João Antonio Monteiro, tesoureiro. No seu livro, Felipe T. Gomes registra os nomes de todas as autoridades civis e militares, dirigentes do MEC, parlamentares, que ajudaram a CNEC, entre 1943 e 1980, inclusive o ex-Presidente Café Filho, potiguar, Presidente de Honra da campanha, os falecidos cardeais Dom Avelar Brandão Villela e Helder Câmara. Nas 156 páginas do seu livro, Felipe Tiago Gomes, que não historia a CNEC potiguar, não registra nenhum nome de sacerdote católico do RN que tenha implantado a Campanha no RN. O que eu sei, por ouvir dizer, é que a CNEC entrou em decadência quando passou a ser cobiçada pelos políticos de "olhos grandes" nos seus caixas. Aí, meu caro, "a vaca foi brejo", a partir da década de oitenta. Mas isso é outra história... Vige Maria!

Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador