segunda-feira, 3 de maio de 2010

Professor Tiago Gomes


 


 


 

Um porteiro, paraibano de Picuí, fundou a CNEC

Em Recife e foi tachado de comunista.

Luiz Gonzaga Cortez.


 

O fundador, o Pai, o inventor da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade-CNEC, denominação atual, foi o paraibano de Picuí, Felipe Tiago Gomes e tudo começou na capital pernambucana, Recife, onde ele era o porteiro da Casa do Estudante de Pernambuco. Felipe Tiago Gomes se inspirou na experiência do peruano Haya de La Torre, após ler o livro "Drama da América Latina", de John Gunther. A Campanha do Ginasiano Pobre foi lançada no dia 30 de agosto de 1943, através de um boletim impresso pelo grupo de 5 estudantes pobres: Felipe Tiago Gomes, Carlos Luis de Andrade, Florisval Silvestre Neto, Joel Pontes e Eurico José Cadengue. Foram esses rapazes que participaram da primeira reunião realizada no Ginásio Pernambucano, hoje Colégio Estadual de Pernambuco. A idéia contou com a adesão de Genivaldo Wanderley e José Irineu, impulsionando o movimento em plena Segunda Guerra, o que teria possibilitado o surgimento da desconfiança das autoridades civis e militares diante dos boatos de que era "coisa de comunistas". Ajudar os pobres era coisa de comunista. O que queria Felipe Tiago Gomes era ajudar os ginasianos pobres, desamparados e desempregados quando terminavam o primeiro grau, servindo de massa de manobra dos politiqueiros e dos coronéis dos sertões nordestinos, além "de acender novas luzes nas inteligências de dezenas de rapazes pobres, que apenas têm o curso primário e não podem, por motivo financeiro, continuar seus estudos".

Os jovens causaram tremendo "rebu" em Recife durante os festejos da Semana da Pátria, quando lançaram um manifesto no dia 7 de setembro de 1943, conclamando os estudantes a se irmanarem na campanha "Um ginásio para o pobre!". O panfleto foi redigido por Alcides Rodrigues de Sena, colega de Felipe, e pedia ajuda da mocidade para formar fileira na campanha, do estudante rico para estirar "em auxílio do jovem anônimo e inteligente que também deseja, quer estudar".

A Campanha se expandiu e em 21 de março de 1944 o grupo, que ainda divulgava seus objetivos e já tinha dialogado com os oficiais do Exército e da Marinha e líderes católicos de Pernambuco, Ceará e Pará, mandou uma carta para o escritor Luís da Câmara Cascudo, convidando-o para proferir palestra em Recife durante a Semana de Cultura Nacional. Cascudo não aceitou o convite por causa dos compromissos assumidos.

Outro fato que chamou a atenção das autoridades de Pernambuco foi a campanha "De pé também se aprende", com mais de 100 alunos. O fato é que eles não conseguiram cadeiras e carteiras para os alunos e lançaram panfletos dirigidos aos usineiros, industriais, comerciantes e agricultores, a fim de obterem recursos para aquisição de carteiras e tamboretes para os ginasianos pobres. O general Isauro Regueira, Comandante da Sétima Região Militar, na entrada do Teatro Santa Isabel, ao receber um panfleto, parou para lê-lo e, em seguida, procurou o grupo de estudantes para conhecer a Campanha do Ginasiano Pobre, denominação primitiva da hoje CNEC, que já foi CNEG, Campanha Nacional de Educandários Gratuitos.

A "História da CNEC" ( Brasília, 1980) está contada por Felipe Tiago Gomes, responsável pela vinda da Campanha ao Rio Grande do Norte, em 1948, onde ele e sua comitiva foram recebidos pelo governador José Varela e secretários, colocando o jornal do Governo, A República (vide edição de 2 de outubro de 1948) à disposição do movimento. A primeira diretoria da CNEC não tem nenhum nome do RN, mas em 1949, quando Felipe Tiago Gomes já residia no Rio de Janeiro, nosso Estado já tinha um delegado da instituição, o sr Luís C. Soares. Em 1950, houve um congresso da CNEC que elegeu a seguinte diretoria: Presidente Felipe T. Gomes; Antunes de Oliveira, segundo vice-presidente; Péricles de Souza Dantas, segundo vice; Dulce Oliveira Vermelho, secretário-geral; Bráulio Cortês Xavier Bastos, primeiro secretário; Norma Fonseca Paixão, segundo secretário; João Antonio Monteiro, tesoureiro. No seu livro, Felipe T. Gomes registra os nomes de todas as autoridades civis e militares, dirigentes do MEC, parlamentares, que ajudaram a CNEC, entre 1943 e 1980, inclusive o ex-Presidente Café Filho, potiguar, Presidente de Honra da campanha, os falecidos cardeais Dom Avelar Brandão Villela e Helder Câmara. Nas 156 páginas do seu livro, Felipe Tiago Gomes, que não historia a CNEC potiguar, não registra nenhum nome de sacerdote católico do RN que tenha implantado a Campanha no RN. O que eu sei, por ouvir dizer, é que a CNEC entrou em decadência quando passou a ser cobiçada pelos políticos de "olhos grandes" nos seus caixas. Aí, meu caro, "a vaca foi brejo", a partir da década de oitenta. Mas isso é outra história... Vige Maria!

Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador

2 comentários:

Anônimo disse...

isso é uma narativa?

Emanuel Sena disse...

Alcides Rodrigues de Sena é meu avó.. e atualmente ele mora em Goiana/PE e se tornou advogado, ainda militante na área, e escritor.