domingo, 3 de abril de 2011

Gilda Moura fala sobre duas trovadoras potiguares.

Hermenegilda Isabel de Moura, natural de Assu, funcionária pública aposentada, residente em Natal, fez apresentou os dados biográficos de Ana Angelina de Macedo e Maria Natividade Cortez Gomes na Academia de Trovas do Rio Grande do Norte. O documento que ela me forneceu tem o seguinte teor:
"Nos jardins da Academus, Platão criou uma Escola Filosófica que recebeu o nome de Academia.
Ao ingressar na Academia de Trovas do Rio Grande do Norte, no dia 18 de julho de 1994, a convite de Luiz Carvalho Rabelo, que me conhecia desde a minha infância e sendo as minhas trovas analisadas por José Revoredo Neto, ambos de saudosas memórias e incontestáveis valores intelectuais, senti-me como uma discípula que é recebida para ingressar nessa verdadeira Escola.
Tive a consciência que não significava aquele ato, apenas o recebimento de um galardão, mas antes de tudo a atribuição de uma responsabilidade.
Daquele dia em diante por onde andar o nome desta Academia meu nome também estará a ela vinculado porque para honrar nossa história não basta somente o amor às letras, são necessárias a dedicação, o estudo e a pesquisa.
Cumprindo o protocolo, devo falar sobre a Patrona da Cadeira nº 23 que tenho a honra de ocupar.
Ana Angelina de Amorim Macedo, filha de Luiz Gomes de Amorim e Ana Maria de Araújo Amorim, nasceu na cidade de Assú, no dia 22de janeiro de 1875. Casou-se no dia 21 de junho de 1896 aos 21 anos com João Francisco Soares de Macedo.
Colaborou com alguns periódicos e almanaques do Assú e é de sua autoria o seguinte poema:

Resignação

Bendita seja a mão que o golpe envia
Sobre a minha cabeça ao fim desta jornada
Na floresta da vida erma e sombria

Aqueles que disseram a volta ao mundo
A que triste  viveu somente um dia
Eu direi!  Enganai-vos! A alegria
Espera-me no além na pátria amada

Não criminem a morte que nos leva
A ver a estrela que no azul cintila
A luz que vem do céu não chamem trevas

Pouco a pouco a matéria me aniquila
Mas a alma imporal ao céu se eleva
que venha, pois, a morte , estou tranquila.

Faleceu no dia 05 de junho de 1906 aos 31 anos de idade.
Em obediência ao rito acadêmico, cabe-me focalizar a minha antecessora, Maria Natividade Cortez Gomes. Faço-o com satisfação, não por se tratar de mais uma trovadora, mas pela extraordinária mulher que foi, provando, assim, que não se nasce mulher e sim torna-se mulher.
Maria Natividade Cortez Gomes (Nati Cortez), nas ceu em Natal, no dia 08 de setembro de 1914, sendo filha de Manoel Marcolino da Silva e Maria Gomes da Silva. Iniciou seus estudos aos 05 anos no Externato "Sagrado Coração de Jesus", de propriedade da professora Maria Emília Andrade. Fez o curso primário no Grupo Escola Augusto Severo e secundário na Escola Vigário bartolomeu, mantida pela Loja Maçônica 21 de Março, onde foi aprovada com distinção.
Contraiu matriônio com o sr. Manoel Genésio Cortez Gomes, de quem teve 24 filhos , sendo 17 vivos, assim relacionados: Cleando, Cleóbulo, Cleomedes, Maria José, Miguel Archangelo, Carmela, Margarida, Ana Maria,  Francisco de Assis, Cecília, João Maria, Marta, Maria das Graças, Luiz Gonzaga, Antonio, Maria de Fátima e José de Anchieta.
Mulher de vocação literária extraordinária que teve o excelso dom de equilibrar a educação de tão numerosa família, com a criatividade e o destino às letras.
Autodidata, fez-se poetisa, trovadora, teatróloga, cientista, ufologista, pesquisadora, escritora e autora de diversos hinos sacros, cantados em várias igrejas do Brasil, uma vez que era católica fervorosa e devota de SantaTeresinha.
Pertenceu as seguintes associações:
Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.
Sociedade Brasileira de Estudos sobre Discos Voadores.
Academia de Trovas do Rio Grande do Norte.
Associação Norteriograndense de Astronomia.
Associação dos Poetas Populares.
Academia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil.
Academia de Figueiras - Portugal.
Foi detentora de vários diplomas sobre literatura nas cidades de Uruguaiana-RS e Anapólis-GO.

Publicou seu primeiro livro no dia 20 de janeiro de 1971 aos 57 anos,como título de "Diálogo das Estrelas ou o Mistério dos Discos Voadores", em estilo teatral.
No dia 23 de outubro de 1973, lançou no Teatro Alberto Maranhão, a peça infantil "Abelhinha Sonhadora" que foi publicada pelo Serviço Nacional de Teatro, tendo a mesma peça permanecido 05 meses em cartaz no Teatro Fortaleza-CE.
Lançou também o Teatro Espacial com duas peças infantis com os títulos de:
O Natal Espacial e a Guerra dos Planetas; Curumin Amazônico (peça),publicada em Lobito, Angola, obtendo grande sucesso na região amazônica como também na Bolívia.
Em 1976, publicou em literatura de cordel "O Mistério dos Discos Voadores", que foi rapidamente esgotado.
Participou de várias coletâneas de Aparício Fernandes. A peça "A Guera dos Planetas" foi encenada pela primeira vez, na Universidade do Colorado/Estados Unidos, no dia 18 de fevereiro de 1977, ´pelo grupo "Tupi", sob a direção de Teresinha Alves Pereira e num festival de teatro da mesma universidade. Em 1979, participou da coletânea "O Livro da Agebiana", de Cândida Galeno/CE, tornando-se agebiana.
Escreveu a peça infantil "Maribondo Amoroso", que foi editada pela Kageb, Grécia. Nati deixou vários inéditos como: Natal do meu tempo de menina".
A pétala de Rosa (novela religiosa).
História do Brasil (em versos).
Eles estão chegando (ufologia).
Terrestres x Selenitas e Marcianaos.
O Alto da Virgem.
Natal em Natal.
A piabinha encantada (baseado em conto de Maria Eugênia Maceira Montenegro).
Não tenho tempo, meu filho (peça educativa) , encenada no Colégio Estadual Sebastião Fernandes.
Recebeu inúmeras homenagens e troféus, sendo sua última homenagem promovida pelo Movimento Poético Nacional, na Biblioteca Viriato Correia, na pessoa do presidente dr. Silva Barreto.
Faleceu no dia 02 de maio de 1989 aos 75 anos de idade, na sua residência, na rua Felipe Camarão, 453, Cidade Alta, em Natal/RN.
Analisando o universo temático e criacional que fundamentaram os sentimentos de Nati Cortez e a pluralidade das suas criações, nos atestam que nascer biologicamente perfeito é um privilégio, mas viver sem fazer da vida uma obra de arte é negar essa perfeição.
Fontes pesquisadas: familiares e amigo. Natal, Hermenegilda Isabel de Moura. (semdata).
Notas do editor: A maioria das primeiras obras de Nati Cortez foram editadas pelo Serviço Nacional de Teatro, na gestão de Felinto Rodrigues, e Instituto Nacional do Livro-INL, Departamento de Imprensa do Estado do Rio Grande do Norte. A guerra dos planetas foi encenada por um grupo de teatro da Universidade  Potiguar/UNP, no Teatro Alberto Maranhão, na década de 90 do século passado.
O texto de Gilda Moura, provavelmente, foi redigido antes de janeiro de 1993, ano em que faleceu José de Anchieta. Cleando, o mais velho de uma prole de 17, faleceu em setembro de 2008, em Fortaleza/CE.

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