sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Brasil entrou na guerra após o encontro dos dois presidentes


 

Luiz Gonzaga Cortez


 

Uma das mais secretas operações militares das forças americanas em, Natal,durante a Segunda Guerra Mundial, foi o encontro do Presidente Franklin Delano Roosevelt, dos EUA, e de Getúlio Vargas.

A visita do Presidente Roosevelt foi cercada do maior sigilo e nenhum brasileiro residente em Natal sabia da vinda daquele estadista. Nem o Interventor do Estado, Rafael Fernandes, o comandante da Guarnição Militar, general Gustavo Cordeiro de Farias e o Chefe de Polícia, coronel André Fernandes, sabiam. Souberam minutos após o avião americano amerissar no rio Potengi. Foi uma desmoralização para os governantes do Estado, que não eram confiáveis para o esquema de segurança dos gringos. Durante a permanência de Roosevelt em Natal e Parnamirim a segurança foi feita por norte-americanos.

O encontro já foi amplamente relatado em reportagens de jornais e revistas do país, inclusive foi capítulo do livro do médico José de Anchieta Ferreira, "Histórias que não estão na História" (Clima, 1985, Natal, páginas 63/65). A revista Enciclopédia Bloch, de março de 1971, publicou ampla reportagem sobre o Brasil na II Guerra, assinado por Joel Silveira e a foto da capa mostra Roosevelt sentado no banco dianteiro de um jipe, tendo ao lado o general Cordeiro de Farias dando explicações aos dignitários (Getúlio estava sendo atrás de Roosevelt) e oficiais superiores norte-americanos. Nenhum deles sorrindo. A revista registra que a visita foi em março de 1943. Não foi.

Assim como não foi em janeiro de 1942, conforme publicou o suplemento MUITO, de O POTI de 17.09.00, p.3, na matéria assinada pela professora Ana Maria Concentino Ramos (a quem cientifiquei do lapso), sob o título "O Diário e a Segunda guerra mundial".

O lapso não foi só na data e local. Senão vejamos o que diz trecho da matéria: "...No mês seguinte, janeiro de 1942, sob o olhar de uma pequena multidão, pousava no aeroporto de Parnamirim o avião que trazia a Natal os dois presidentes. Aqui, eles acertaram, três anos após o início do conflito nos campos da Europa, estratégias sobre a entrada dos dois países na Guerra".

Ora, o avião do Presidente Roosevelt e comitiva, de regresso da histórica conferência de Casablanca", no Marrocos, portanto, na África, no dia 28 de janeiro de 1943, amerissou no rio Potengi e estacionou na rampa da "Limpa", em Santos Reis. Da Rampa, Roosevelt foi se encontrar com Getúlio Vargas, que se encontrava aqui desde a véspera, num destroier da marinha americana. Veja bem: Getúlio estava em Natal secretamente.

Depois das conversações na belonave ianque, os dois presidentes rumaram para o Campo de Parnamirim, onde os americanos já tinham uma grande base em intensa operação há mais de um ano, num comboio fortemente escoltado por militares americanos, que teria passado pelas ruas Duque de Caxias, Juvino Barreto, Potengi, Praça Pedro Velho e a célebre Pista da Base, hoje duplamente apelidada de Hermes da Fonseca e Salgado Filho. No campo de Parnamirim, que, na época não tinha o Aeroporto Augusto Severo nem similar, pois se tratava de base militar, os dois presidentes pegaram seus aviões e foram embora. Mas até hoje não se conhece o teor dos assuntos abordados pelos dois Presidentes e quantas horas duraram as conversações; quem foi o intérprete; os nomes dos oficiais americanos, dos seguranças (dois aparecem de costas na foto); se o comandante Ary Parreiras escreveu algo a respeito.

Ninguém localizou os meninos que tomavam banho no rio Potengi nos dias 27 e 28 de janeiro de 1943 e que teriam conversado com Getúlio no dia do encontro, que, segundo informações, eles moravam nas Rocas. Impossível? Creio que não. Como não acho impossível dizer quem foi e onde se escondeu logo em seguida, o homem que colocou no ar, na Radio Educadora de Natal-REN, hoje Rádio Poti, o Hino Nacional da Alemanha nazista, fato ligeiramente abordado pelo dr. Eider Furtado em "Memórias em Retalhos" (Muito, p.4, 17.09.00). Sei quem viu, qual o meio de transporte utilizado e o local onde o homem se escondeu após esse rebu. Cleômedes C. Gomes, meu irmão, falou-me sobre o assunto e que conheceu Genar Wanderley. Mas isso é outra história.


 

Luiz G. Cortez é jornalista.

Reescrito em 22.08.08


 

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